* Texto publicado em ZH no espaço do colunista David Coimbra, que está em férias.
Se você, assim como eu, teve o azar de não ganhar a Mega-Sena da Virada, é hora de pensar nas suas finanças para 2022. O início do ano é o melhor momento para isso, pois estamos tão otimistas quanto os especialistas que projetam a economia do país, com a expectativa de que algo grandioso possa acontecer com nossa conta bancária. E a estatística está do nosso lado: são 365 oportunidades.
Mas há algo que podemos fazer concretamente. É aí que entra um livro que foi uma das minhas leituras mais proveitosas de 2021. Embora cultuado internacionalmente entre as pessoas interessadas por investimentos, A Psicologia Financeira (HarperCollins Brasil), de Morgan Housel, merece ser lido mais amplamente. É um volume direcionado não a especialistas, mas a pessoas comuns, como você e eu, que procuramos fazer o melhor para guardar nosso dinheiro feito com suor.
Sócio do Collaborative Fund, empresa norte-americana que oportuniza financiamento para companhias, Housel não diz no livro onde você deve investir. Em vez disso, oferece reflexões sobre comportamento que provavelmente vão mudar a forma como você pensa – e age – sobre dinheiro. Dos 20 capítulos de leitura leve, separei três ideias que me chamaram a atenção.
Talvez a mais interessante para nós, brasileiros – sempre preocupados em impressionar os outros com carros, roupas e procedimentos faciais –, é a seguinte máxima: fortuna é aquilo que você não vê. Quando as pessoas dizem que querem ser milionárias, argumenta Housel, pensam em poder gastar US$ 1 milhão. Mas isso é justamente o oposto de ser milionário. Embora os bens materiais sejam nossos parâmetros para julgar a vida dos outros (sem saber se tiveram que se endividar), na verdade fortuna é o dinheiro que não foi gasto.
Economizar é uma impossibilidade para a maioria dos brasileiros, que mal recebem o suficiente para seu sustento. Mas muitos que poderiam fazer algo sobrar no final do mês encontram dificuldade. Assim, é comum que se recomende ter um objetivo para guardar dinheiro – uma viagem de férias, por exemplo. Embora possa ser uma dica útil, Housel apresenta uma reflexão diferente: você não precisa de um motivo específico. É que o mundo não é previsível. Assim, economizar “é uma proteção contra o poder incontornável que a vida tem de nos surpreender nos piores momentos”, escreve ele.
Por fim, um conselho que o autor diz ter levado anos para entender: cuidado com as dicas financeiras de pessoas que jogam um jogo diferente do seu. Você investe para a aposentadoria? Nesse caso, não faz sentido se comparar com o amigo que faz operações arriscadas de curto prazo na bolsa em busca de lucros extraordinários (ou perdas irrecuperáveis).
Pode ser que nada extraordinário aconteça com sua conta bancária em 2022, mas quem sabe não é o início de um planejamento para o futuro?