Bem que tento posar de moderninho, mas basta ler uma palavra em inglês no lugar em que caberia uma equivalente em português que já viro um ancião iludido com o tempo em que, ah, naquele tempo sim se falava português no Brasil. Pense em uma vitrine com uma chamativa sale no lugar de uma "promoção", com 50% off em vez de "50% de desconto". É disso que estou falando.
Não perca tempo argumentando que a nossa língua – quero dizer, a língua que foi imposta aos indígenas pelos portugueses – sempre recebeu influência de diferentes idiomas. Embora simpatize com Policarpo Quaresma, não nego a realidade.
Nada contra os americanos, que nos deram o jazz e o Google. Nem contra os ingleses, que nos presentearam com o football e nos fizeram vibrar com o primeiro goal. Seria um tanto chavão enumerar aqui os escritores, músicos, artistas e pensadores anglófonos que venero, sempre que possível, em sua própria língua.
Prova disso é que, às vezes, uma simples maquiagem no estrangeirismo já me contenta. Em minhas mãos, surf vira "surfe", e golf – surpresa! –, "golfe". Deck, claro, fica "deque", e drink, "drinque", mesmo que pareça menos chique. Mas também não sou um sem-noção. Jamais permitiria que rock fosse "roque", porque tudo tem limite. Agora, quem toca rock é "roqueiro", não quero nem saber – de qualquer forma, roqueiro que se preze nunca se define dessa forma.
Alguns estrangeirismos servem para dar uma suavizada. É o caso de fake news, esse conceito quase filosófico que, usado na língua portuguesa, parece menos perigoso do que "notícia falsa". Ou outsourcing, que soa menos grave do que "terceirização". Até o feedback fica agradável quando não é uma "avaliação". Coloque um pouco de glamour na sua sofrência.
Agora: tem estrangeirismo que nos salva do sufoco da falta de uma boa alternativa em português? Tem sim. Mesmo no país do jeitinho e da malandragem, ninguém pratica dumping em português. Seria necessário um brainstorm para descobrir outra maneira de fazer um brainstorm. E já temos uma tradição nacional em talk show e stand-up. Veja bem, se nem os franceses resistem a um weekend depois de uma longa semaine de trabalho, o que sobrará para nós?
Sinto que estou causando desgosto ao meu professor de linguística da época da faculdade. Foi ele quem me ensinou que a língua é um fenômeno vivo, que está em constante transformação. E eu não mereço ser chamado de reacionário, do que já senti que vocês, caros leitores, estavam prontos para me xingar no Twitter. Não levem a sério esse texto irônico, estou apenas exercitando o humour.
Talvez seja hora de abraçar o futuro. Startar uma nova vida. Linkar tudo que já falamos com um novo mindset, mudar o approach. Quem não quer ser lembrado como um case de sucesso antes que o budget termine ou que o deadline divino faça seu job?