Eu queria ser o Borat brasileiro.
Borat todo mundo sabe quem é. Trata-se do segundo melhor repórter do Cazaquistão! Ele odeia judeus e ciganos, considera as mulheres seres abaixo do inferior, ama conservadores e persegue comunistas. Em 2007, foi para os EUA e causou constrangimentos que seriam cômicos não fossem reais. Retornou faz pouco, disposto a dar sua filha para o ex-vice-presidente Michael Pence ou, quando menos, oferta-la a Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York, advogado de Trump e chegado numa ninfeta.
Se eu fosse o Borat brasileiro pulverizaria Canela com álcool gel e comeria fondue em Gramado, pois nada melhor que se fundir sem máscara na rua coberta. Se fosse o Borat brazuca, telefonaria para a médica de Camaquã que nebulizou com cloroquina, a beijaria na boca e a levaria para conhecer melhor o médico de São Gabriel que vende a cura da Covid. A seguir, iria ao programa Su-ces-so, exibir minha filha ao deputado-apresentador, para ver se ele arruma uma boquinha para ela como arrumou para a dele. Por falar em Prefeitura, pegaria meu kit fake com vermífugo e afrontaria o Piratini, brandindo bandeira branca contra a preta.
Mas eu não seria só o Borat gaudério e sairia pelo país tocando sax na reabertura do shopping em Joinville e lambendo os pés da Estátua da Liberdade em Barra Velha, no atacadão que força a barra e vende feijão para abrir na pandemia. Só não sei se é o pé de feijão que cura Covid do pastor sempre armado de fuzil. Em Curitiba, compraria um carro usado na revenda do ex-juiz e faria power point com o ex-procurador. Em São Paulo, daria batidas em cassinos clandestinos com o ex-ator pornô, flagrando o goleador impedido sob a mesa. Daria um giro de pedalinho no sítio sem dono em Atibaia e do alto do ex-triplex que nunca foi meu veria o desembargador destratar o guarda municipal.
No Rio, que delícia, visitaria os ex-governadores na prisão e condecoraria milicianos. Em Minas, pousaria no aeroporto que mandei fazer na fazenda do meu tio; no Ceará invadiria o quartel montado numa retroescavadeira. Em Manaus, me rebatizaria Amazonino e nas Alagoas me lançaria senador. Depois, queimaria o Pantanal, iria garimpar em terra indígena e encheria minha piscina de agrotóxico, semeando soja transgênica por toda Amazônia. Mas evitaria Brasília a qualquer custo, a não ser que fosse lá liberar as igrejas do bilhão que elas devem em impostos.
Bom, caso você não saiba, Borat não existe. Mas o ator Sacha Baron Cohen que o concebeu e o interpreta, sim. Na pele do personagem que está atrás do Oscar, ele acaba de desmascarar Michael Pence e Rudolph Giulliani em cenas perturbadoramente reais. Só não sei se Borat ousaria vir ao Brasil. Agora, se viesse, perigava ser eleito presidente.
Mas peraí – será que já não veio e já não foi?