Gostaria de falar de flores. Pronto, falei. Agora vou falar de ervas daninhas. Sim, sei que parece piada, mas o fato é que durante 27 anos como deputado federal, Jair Bolsonaro apresentou 171 projetos de lei – isso mesmo, um sete um. Eram basicamente projetos contrários aos direitos dos indígenas, dos transexuais e outras minorias ou, é claro, favoráveis aos militares, os torturadores em particular. Desses 171 projetos, o capitão reformado emplacou ... dois. Índice superior a 2%, bravo! Mas um deles fala por todos 171: Bolsonaro foi autor da lei que aprovou a distribuição da chamada “pílula do câncer”, medicamento nunca testado e de eficácia jamais comprovada. Após passar pelo Senado, o projeto foi sancionado, ora veja, por Dilma Rousseff. E logo depois derrubado, ora veja, pelo STF.
Aí você pensa: quantos médicos, cultores da ciência, votaram nessa criatura? O repúdio ao PT e a rejeição aos escândalos do Mensalão e do Petrolão bem podem ter sido o estímulo para tal decisão. OK. Mas pergunto, são capazes de justifica-la? O pessoal de branco não sabia que, além de negacionista, o Capitão Coronga era chegado num curandeirismo? Não sei. Mas sei que não votei nele – nem sob tortura (que ele aprova e premia) o faria. Não votei no poste também. Talvez devesse, embora siga achando que a “culpa” de não tê-lo feito seja deles mesmos.
Sei também que não fiz o juramento de Hipócrates – até porque não sou responsável pelo tratamento de ninguém. Mas devo confessar, com certa dor, que se fosse, não sei como agiria caso tivesse que tratar de um negacionista atingido pela Covid e que votou no Bozo. Sei, porém, como agiria se fosse um charlatão capaz de defender a cloroquina e a “pílula do câncer”: deixaria o sujeito partir. Sem mimimi, sem frescura. Mas não sou coveiro.
Jornalistas não fazem o juramento de Hipócrates, mas como os contadores e os bacheréis em Direito, juram comprometer-se com a verdade e a isenção. Daí você pensa o que pode levar um jornalista – por mais insignificante que seja – a negar o próprio negacionismo e tecer uma ode ao, digamos, meta-negacionismo. O cara escreveu: “Ouvir apenas a ciência, que diz o que pensa ideologicamente, não seria o verdadeiro negacionismo?”. Não, não seria. Mas bem poderia ser caso de interdição do autor da frase.
Por fim, embora bem menos grave, também é meio incômodo ver um colunista da minha, da sua, da nossa Zero Hora partir para o negacionismo hidrológico e negar que o Guaíba seja um lago. Deve ser porque ele quer que o time dele siga perdendo no Beira-Rio, e não no Beira-Lago, o título que não ganha há mais de 40 anos.
Achou a coluna mau humorada? Explico: eu queria chamar o cara de genocida. Mas parece que não pode. A polícia bate à porta. E nem é a secreta. E pequi roído, acho demais para ele.