Rede social é aquele terreno parecido com um valão: a gente acaba se acostumando porque precisa usar a avenida, mas de vez em quando o cheiro de podre é insuportável. Vez que outra surge um rato encorpado, tão cheio de si que a gente chega a duvidar da nossa capacidade passar pelo roedor sem sentir um frio na espinha.
O nariz de cera acima introduz os comentários pouco republicanos com desejos e instintos primitivos direcionados aos negacionistas da pandemia. É o caso de um deputado federal, que se mostrou voz enfática contra as medidas de isolamento, negou a gravidade da doença e estimou para baixo, muito baixo, o número de mortos pela covid-19 no Brasil. Não somente errou nas suas projeções como também foi contaminado pelo vírus. Hoje, respira com ajuda de instrumentos em um leito na UTI de um hospital em Porto Alegre.
Não foi só ele. Um senador da República espalhou notícias falsas a respeito do coronavírus. E como se não bastasse culpou a imprensa pelo que chamou de "histeria" quanto à preocupação com as vidas de milhões de brasileiros. Como se sabe, jornalistas noticiam as mortes diárias pela doença. E o senador morreu. Por complicações decorrentes da covid-19.
Pois então.
Não bastassem as mais de 170 mil mortes, o presidente da República resolveu dizer nesta quinta-feira (26) que nunca disse o que ele mesmo disse. A regra é clara: eu falo, depois desfalo, depois eu disse que nunca falei. E compra a minha versão quem quiser. Eu distraio vocês. Ergo caixa de cloroquina.
Enquanto isso, o jornal O Globo revela que, no meu governo, o Ministério da Saúde não usou R$ 3,4 bilhões liberados na forma de crédito extraordinário em maio deste ano para o enfrentamento da pandemia da Covid-19. Achou pouco? Tem que ver isso daí. Rá rá. Vou falar da máscara, então.
— A questão da máscara, ainda vai ter um estudo sério falando sobre a efetividade da máscara... é o último tabu a cair.
Como se sabe, a máscara consegue reduzir e MUITO o risco de transmissão desse e outros vírus.
Mas voltemos à pergunta central: o que desejar a um negacionista? Pois eu digo: não caia na tentação de desejar o mal, a doença ou mesmo a morte. Eu desejo, acima de tudo, a insignificância. Para que ninguém mais tenha que ouvir repetidas bobagens. Ou, num cenário utópico, que nenhuma delas tenha repercussão, dada a irrelevância deste tipo de personagem.