A Copa de 1930 terminou com uma batalha campal entre o anfitrião Uruguai e a vizinha Argentina, em pleno inverno platino, num campo que mais parecia um potreiro.
A Copa de 1934 foi disputada na Itália fascista e descaradamente roubada pelos donos da casa. O ditador Mussolini ergueu a taça. A Copa de 1938 foi na França, três meses após a Alemanha nazista invadir a Áustria e roubar-lhe sete jogadores. A Itália ganhou de novo e, de novo, os jogadores receberam o mesmo bilhetinho de Mussolini: “Vencire o morrire”.
As Copas de 1942 e 1946 não rolaram justamente por causa de tipos como Mussolini e Hitler. A Copa de 1950 foi no Brasil e acabou em tragédia. A Copa de 1954 também terminou com injustiça brutal, e a Hungria, que dois anos mais tarde seria esmagada pela URSS, foi atropelada pela Alemanha, que a destruíra 12 anos antes.
A Copa de 1958, justo no ano em que nasci, foi a melhor de todas. Mas deve ter sido mera coincidência. Na Copa de 1962, o Brasil manteve o mesmo timaaço. Ainda assim, foi favorecido pelo apito, e até o primeiro-ministro Tancredo Neves mexeu os pauzinhos junto à Fifa para que Garrincha, expulso na semifinal, pudesse jogar a final.
A Copa de 1966 foi a aurora da retranca e do antifutebol, e a Inglaterra a surrupiou na mão grande e pé pequeno. A Copa de 1970 foi mágica. Pena que o Brasil, de novo favorecido pela Fifa, ganhou sob a sombra da horrenda ditadura Médici.
A Copa de 1974 deu início à corrupção generalizada na Fifa, e a da Argentina, em 1978, segue como a mais nefasta de todas, em todos os sentidos. A Copa de 1982 foi uma tragédia para os brasileiros – mas não dei bola. A Copa de 1986 foi ganha com um gol de mão – e dei muita bola; na verdade, adorei. Sei que você não vai crer, mas assisti à Argentina eliminar o Brasil na Copa de 1990 num quarto de hotel, só a Daryl Hannah e eu. Ela ficou chocada. Eu, nem bola.
A Copa de 1994 foi uma chatice; o Brasil levou o título nos pênaltis numa final pra lá de enfadonha. A Copa de 1998 acabou com a CPI da Nike – após os convulsivos 3 x 0 da França. A Copa de 2002 teve gol pilantra e foi de madrugada: eu mal a vi. A Copa de 2006 também não vi direito: eu estava arrumando o meião... A Copa de 2010 foi a da tal vuvuzela: não deu para ouvir nada. Trabalhei muito na Copa de 2014, mas deu para pintar o sete. Na Copa de 2018, conheci a Rússia e amei o chocolate belga.
A Copa de 2022 acaba no domingo. Sei que a França é azul, mas sou argentino desde criancinha e sempre acreditei em Papai Lionel.