Eu tive um time chamado Cometa. Não sei por que nós botamos esse nome no nosso time. Não devia ser por causa do Cometa Halley, que só apareceu por aqui no meio dos anos 80. Nem apareceu, na verdade. Foi uma frustração.
Todos sabíamos que ele viria – ele vem a cada 75 ou 76 anos. Em 1910, ele veio e foi bem visível. As pessoas sentiam medo, porque fake news (sempre elas) diziam que a cauda do cometa era venenosa e que sua passagem iria liquidar com meia Humanidade, tipo o Thanos. Alguns espertos chegaram a vender pílulas que supostamente seriam o antídoto contra a cauda do cometa, uma Cloroquina da época. Mas o Halley veio, viu, venceu e ninguém morreu por isso.
Sua volta, portanto, estava programada para 1986. Ficamos todos em grande expectativa para vê-lo. Bares e crianças foram batizados de Halley, acho até que, depois, surgiu um jogador com esse nome. Goleiro do Goiás, talvez? Não lembro. O que lembro é que o Halley veio e ninguém viu. Era uma manchinha minúscula no céu. Decepcionante.
Agora, li em GZH que o maior cometa já descoberto está vindo em direção à nossa amada Terra. É um cometa de nome bonito: Bernardinelli. Ele tem 150 quilômetros de diâmetro. Ou seja: aproximadamente o tamanho da cratera produzida pela queda do Chicxulub no México, um evento que matou os animais de grande porte do planeta há 66 milhões de anos, entre eles os tão populares dinossauros. Naquele tempo, infelizmente, ninguém tinha celular para registrar o acidente, mas deve ter sido lindo de ver.
O certo é que, se isso ocorrer de novo, coisas desagradáveis podem advir, como a extinção da Civilização, o que provavelmente faria cair outra vez o WhatsApp. Não quero, portanto, que o Bernardinelli peche em nós. Não gostaria de ser destruído.
Os cientistas garantem que isso não vai acontecer. Em 2031, quando o Bernardinelli chegar, ele passará à boa distância da Terra e também de Porto Alegre. Mas... Não sei, não. Às vezes eles erram na previsão do tempo!
Tudo isso me fez lembrar do meu time Cometa, como contei no primeiro parágrafo. Era um time de futebol de salão, esporte que depois se afrescalhou e virou futsal. Naquela época, o jogo era para os fortes: a bola era pesada feito um tijolo e não se podia fazer gol dentro da área.
O plantel do Cometa era formado pelos seguintes atletas: Jorge Barnabé, Plisnou, Sérgio Anão, Diana, Amilton Cavalo e o degas aqui. O uniforme era composto por peças de vestuário que já possuíamos: calções e meias pretas e camiseta branca. Quase a Alemanha Ocidental, só que com um cometinha de pano que a minha mãe recortou e costurou no lado esquerdo do peito de cada camisa.
Marcamos nossa estreia contra o melhor time de futebol de salão da Zona Norte, o América, que formava com Nilton, o famoso Languiça, no gol, mais Edu Brites, Carlos, Zé Índio, Ricardinho ou Fio. Era um cano, não perdia para ninguém. O Edu tinha um chute de revesgueio que deixava os goleiros em pânico.
Passamos a semana treinando numa ruazinha de areão que havia entre os blocos da Coorigha e da Guasepe. Mas um dia deu-se a tragédia: eu estava de cabeça baixa, olhando para a bola aos meus pés e, quando ergui o queixo para dar um lançamento, o que vi? Hein? O quê? O quê?
A cara de um cavalo.
Sério! Um cavalo que vinha na minha direção, com uma carroça sólida atrás dele. Dei um salto para me desviar do bicho, mas a carroça bateu na minha lateral. Meu quadril inchou na hora, pensei que tivesse quebrado, mas não quebrou. Só que fui para o Departamento Médico, que vetou a minha presença na nossa partida inaugural. Na noite da estreia, fui apenas um torcedor do Cometa. Que foi amassado pelo América: 5 a 0 para eles. Talvez meu time estivesse abalado psicologicamente pelo meu acidente. Talvez. O fato é que, depois daquela goleada, decidimos que faríamos tudo de novo. Aposentamos precocemente o Cometa, que teve uma história rápida como... bem, um cometa. Um nome pode definir um destino.