Às vezes tenho vontade de me mudar para Edimburgo dos Sete Mares. Talvez faça isso no ano que vem. Se você não sabe onde fica, conto: Edimburgo dos Sete Mares é a orgulhosa capital da ilha de Tristão da Cunha, considerada o lugar mais remoto do mundo. O pedaço de terra mais próximo de Tristão da Cunha situa-se a 2.100 quilômetros de distância – é a Ilha de Santa Helena, para onde os ingleses levaram Napoleão em seu exílio final.
Se você quiser ir para Tristão da Cunha, terá de ser de barco. Não existe voo para lá. Digamos que você queira fazer uma aventura, digamos que você decida ir nadando até Tristão da Cunha. É fácil: desça até Punta de Leste e, depois de provar uma autêntica parrilla uruguaia no Lo de Ruben, atire-se ao Atlântico e saia dando braçadas vigorosas. Quando você estiver a meio caminho da ponta Sul da África, encontrará nossa querida ilha. Que, na verdade, é um arquipélago: há outras cinco pequenas ilhas no entorno. Uma delas, imagine, se chama “Inacessível”.
Nunca ninguém ia a Tristão da Cunha, até que, no século 19, um americano, Jonathan Lambert, resolveu mudar-se para lá. Essa história é muito boa: Jonathan era de Salém, a cidade das bruxas, vizinha a Boston. Vale a pena visitá-la no Halloween, o principal evento da região. Você nem precisa pernoitar lá, embora haja um ótimo hotel – Boston está a 40 minutos de distância, de trem. No Dia das Bruxas, todos os habitantes se fantasiam e todas as casas estão decoradas. É bonito e divertido. Em Salém existe uma estátua da Elizabeth Montgomery, que estrelava o seriado A Feiticeira. Quando guri, fui apaixonado pela Elizabeth Montgomery.
Mas, espera aí. Tergiverso. Voltemos a Jonathan, que saiu de Salém, navegou até Tristão da Cunha e tomou “oficialmente” posse do lugar, renomeando-o, inclusive, para “Descanso” e declarando em um documento que o local seria posse dele e de sua família para todo o sempre. Mas Jonathan não foi para Descanso para descansar. Não. Ele era mais esperto do que parecia. Durante dois anos ele se dedicou à caça do leão-marinho, que é um bicho bem gordo. Era nessa gordura que estava interessado, pois a transformava em óleo e a vendia a navios que fizessem parada no lugar. Jonathan enriqueceu com o óleo de leão-marinho. Mas, antes que pudesse aproveitar a fortuna, morreu afogado. Dizem que seu dinheiro ainda está enterrado em alguma parte das ilhas.
Só que, se você acha que pretendo me mudar para Edimburgo dos Sete Mares a fim de procurar o tesouro de Jonathan, engana-se rotundamente. Meu interesse no lugar está no fato de, exatamente, ele ser o mais remoto do planeta. Está certo que há poucas coisas a fazer: existe apenas um pub, nenhum cinema e um único time de futebol, o Tristão da Cunha FC, que não sei contra quem joga.
O bom é que, em Edimburgo dos Sete Mares, estarei a salvo da política brasileira. E, lembre-se, estamos escoando para o fim do ano e em 2022 haverá eleições. Você já pensou nisso? Eleições! Como é que nós, os normais, que não bajulamos políticos, aguentaremos um ano de discussões eleitorais? Vai ser jogo duro. Melhor fugir. Quem quer ir comigo para Edimburgo dos Sete Mares?