Afora as discussões a respeito da arbitragem, que, ao cabo de algum tempo, se tornam parnasianas, o que importa, num trepidante clássico como foi o do último domingo, é o que o jogo mostrou. Se você prestou atenção no comportamento dos jogadores, verá o que está acontecendo nos dois clubes.
Pegue dois destaques do Inter, os melhores, Yuri Alberto e Patrick, mais um jovem jogador de desempenho mediano, Praxedes. Você verá que os três tinham iniciativa. Patrick sempre tentava a vitória pessoal sobre o marcador. Sempre. E se embolava com dois ou três inimigos na ponta esquerda e caía e se levantava de novo e ora seguia em frente, ora era parado. Yuri, sempre tentou a finalização. Sempre. Mas teve Geromel pela frente, o que dificulta as coisas. Depois, cansou. Finalmente, Praxedes, mesmo que não fosse brilhante, arriscou o chute de longa distância, não buscou apenas a jogada óbvia.
Isso demonstra como os jogadores do Inter estão confiantes. O que é fundamental. Quem tem confiança, não tem medo de ousar, e só quem ousa faz diferente. Foi essa a razão da virada do Inter: os jogadores acreditavam que conseguiriam.
Já no Grêmio, se você olhar com cuidado, perceberá um pouco de tudo. Havia ali dois jogadores determinados, concentrados e igualmente confiantes: Diogo Barbosa e Lucas Silva. Ferreira e Luis Fernando, que entraram no segundo tempo, têm iniciativa, mas também têm pressa: eles precisam provar suas habilidades em 15 minutos. Alguns virtuoses, como Geromel, Maicon e Diego Souza estão em fim de carreira. Outro virtuose, Jean Pyerre, parece não querer começar a sua. Pepê, o próprio Renato denunciou, não quer mais jogar no Grêmio. E os contratados Pinares, Churin, Éverton, Robinho et caterva são pouco para as ambições do clube.
O quadro é uma assustadora pintura negra de Goya.
É verdade que ainda paira sobre a Arena a esperança do título na Copa do Brasil, mas o histórico do time em decisões não permite devaneios. O Gre-Nal foi uma repetição do fracasso contra o River, na semifinal da Libertadores. O Grêmio entregou o jogo no fim. Como havia entregado para o Atlético Paranaense em 2019, na Copa do Brasil. Isso sem contar os vexames diante de Flamengo e Santos, e o constrangimento da final do Gauchão de 2020, contra o Caxias. Ou seja: a comissão técnica tem problemas sérios. Justificar-se pelos erros da arbitragem é se iludir. É autoengano. É o caminho para a queda.