Foram mais de dois anos sem vitória sobre o maior rival, mas o desjejum se deu de maneira especial para os colorados. De virada, com gol nos minutos finais, o Inter venceu o Grêmio por 2 a 1 e, além de derrubar a invencibilidade tricolor que durava 11 clássicos, o resultado injetou ainda mais combustível na briga pelo título do Brasileirão.
Agora, graças aos tropeços dos adversários diretos, os comandados de Abel Braga tiraram quatro pontos de distância para o vice-líder São Paulo. Isso tudo faltando seis rodadas para o término do campeonato.
— Nós trabalhamos todos os dias e, particularmente, eu que estou há mais tempo, sei a responsabilidade que isso representa e estou muito feliz por ter contribuído com este momento, que esperamos coroar com o título. Sabemos que é difícil. Viramos um jogo que parecia perdido, mas temos que manter os pés no chão. Ainda não ganhamos nada — destacou o volante Edenilson na saída de campo, ainda emocionado pelo pênalti recém cobrado.
O clássico de número 429 foi um teste para cardíacos. Impedidos de fazerem a festa dentro do Beira-Rio ou nas ruas de Porto Alegre, por conta da pandemia, os torcedores promoveram uma carreata nos arredores do estádio e, com direito a buzinaço, celebraram o combo de emoções. Para muitos, foi como se o clube estivesse revisitando o Gre-Nal do Século. As coincidências, inclusive, foram muitas. Assim como no campeonato de 1988, o calendário deste ano também adentrou o ano seguinte. Ambos os rivais almejavam o título nacional, e, na casamata colorada, estava o mesmo comandante.
— Foi bem diferente, porque tínhamos 70 mil pessoas aqui dentro, mais a torcida do Grêmio. Em um jogo desses, você só escuta o pessoal lá fora — desconversou Abel.
Depois de ter criado as melhores chances no primeiro tempo, e não ter conseguido converter em gols, o Inter saiu atrás do placar e parecia fadado a uma nova derrota. O cenário só se inverteu quando o banco de reservas foi acionado. Minutos depois de entrar em campo, Abel Hernández decretou o empate, que já bastaria para assegurar a liderança.
— Você está enfrentando o 12º jogo contra o Grêmio, estando a 11 sem ganhar. É duro. Eu fico feliz com o time, óbvio. É mais uma coisa que vai ficar marcada neste clube e o velho está dentro. Isso é bom para caramba — desabafou o técnico colorado — A verdade é que nós não fizemos um grande jogo, porque o Grêmio tem uma rotatividade no meio-campo, que você não sabe definir quem é o primeiro volante, quem se junta ao atacante. E eles tocam a bola e jogam de frente. É muito difícil de marcar. Eles nos obrigaram a correr muito e estava um calor danado. No segundo tempo, falei para subirmos a marcação porque se não seria problemático. Tivemos uma infelicidade com um zagueiro (Lucas Ribeiro) e sofremos o gol. Mas isso serve de lição. O mais importante é que viramos o jogo, porque nós temos a maior virtude que um homem pode ter, que é levantar imediatamente quando cair. Mas o Grêmio fez um jogo bem melhor que nós — avaliou o treinador.
Em uma entrevista cheia de referências elogiosas ao tradicional adversário, Abel não quis dar coro à maior reclamação: o pênalti marcado nos acréscimos, quando a bola explodiu no braço de Kannemann. Edenilson, que participou ativamente do lance, também se somou ao treinador.
— Eu cabeceei a bola e, quando olhei, vi ela batendo no braço dele (Kannemann). A gente tem o VAR. Não foi uma decisão só do árbitro de campo. Os erros foram minimizados. Lógico que sempre alguém vai reclamar, mas se está marcado é porque tem alguma procedência — justificou o camisa 8 colorado.
Reta final
Aliviados pela vitória e ainda mais confiante pela manutenção da boa fase, os jogadores do Inter terão agora uns dias a mais de descanso. Como o próximo compromisso será apenas domingo, a comissão técnica deu folga para o elenco nesta segunda-feira.
Antes disso, poderão assistir de sangue doce a três jogos atrasados do campeonato, envolvendo adversários diretos na tabela (Palmeiras, Atlético-MG, Flamengo e Grêmio). Mas, independente dos resultados, há uma certeza: o time não será alcançado na liderança.
— Preferia que vocês falassem que nós não somos postulantes a nada, porque nós não éramos há duas semanas ou três. Nós saímos disso, daquele descrédito que existia e fomos crescendo com seriedade e trabalho. É um momento especial, mas que uma hora vai acabar. Tomara que demore. Como não faltam muitos jogos, tomara que fique lá para o final. Não vamos nos pendurar em flores e cair em armadilhas — sentenciou Abel.