O ruim de escrever sobre um Gre-Nal como o deste domingo (24) é que é muito arriscado. O leitor sempre fará uma leitura emocionada do texto. Mas, exatamente por a leitura ser emocionada, é muito bom escrever sobre esse tipo de Gre-Nal. Porque o texto não será anódino.
Então, o melhor é entrar logo no meio da polvadeira, da troca de manetaço e de pernada: a arbitragem prejudicou o Grêmio. O pênalti de Kannemann não aconteceu e, antes disso, houve um pênalti em Ferreirinha que poderia ter sido marcado. O árbitro, inexplicavelmente, nem conferiu no VAR. Outro erro foi o juiz ter encerrado a partida antes do tempo de prorrogação que ele próprio definira, como, aliás, aconteceu no primeiro Gre-Nal que ele apitou, quando o Grêmio venceu por 4 a 1.
O que significa isso, ao fim e ao cabo? Nada. A vitória foi decretada, o Inter somou três pontos e é o virtual campeão brasileiro de 2020. Melhor: com méritos. No campeonato e no jogo.
O jogo teve duas propostas diferentes: no lado do Grêmio, a estratégia; no lado do Inter, a proposição. O Inter jogou o tempo todo para vencer; o Grêmio, para segurar o empate por algum tempo e, depois, tentar a sorte em algum lance isolado.
Curiosamente, pode-se dizer que ambas as ideias funcionaram. O jogo foi parelho no primeiro tempo, com poucas chances para os dois adversários. No segundo, o Inter pressionou por 15 minutos e quase marcou. Não conseguiu. Então, o Grêmio se reequilibrou, passou a dominar a partida e marcou seu gol. Só que o Inter insistiu. No upa-pupa, no abafa, no levantamento quase aleatório para a área, insistiu. E acabou obtendo o resultado que praticamente lhe dá o título.
Foi um clássico muito parecido com o Gre-Nal do Século, de 1989: Abel de técnico, virando o jogo e subindo para a ponteira do Campeonato Brasileiro nas últimas rodadas.
Mas uma partida dessas guarda outros significados. Para o Inter, é o recomeço. Um time com um goleiro seguro e um centroavante perigoso. Entre eles, um meio-campo forte. Ou seja: existe uma coluna de aço a sustentar a equipe. Os melhores? Patrick e Yuri Alberto, sem dúvida. Eles jamais deixam o adversário descansado, eles estão eternamente fustigando a zaga inimiga.
Para o Grêmio, os sinais são mais sombrios. Em primeiro lugar, repete-se a extrema incapacidade do time em decisões, nos últimos anos. Afinal, o Grêmio vencia aos 38 minutos do segundo tempo, e permitiu a virada, mais ou menos como se deu diante do River, na semifinal da Libertadores. Some-se esses jogos aos fiascos contra Santos e Flamengo, à derrota para o Atlético Paranaense em 2019 e ao constrangimento da final do Gauchão, contra o Caxias, e vê-se aí um time que fraqueja na hora mais importante. Um time que vacila.
É bastante óbvio, também, que algumas peças não funcionam mais. Diego Souza fez duas tentativas de arrancada angustiantes. Parecia que estava em câmera lenta, parecia um pesadelo. Mas ele é um jogador de 35 anos, grande e pesado. E Jean Pyerre, de 22, que, da mesma forma, não ganha na velocidade de ninguém e não dá mostras de se importar com isso? E Pepê, que, diria Felipão, perdeu a “alegria das pernas”? E o goleiro Vanderlei, que botou um tiro de meta no pé do centroavante do Inter? E Maicon e Geromel, que ficam mais em tratamento do que em campo? E Alisson, que é como se não estivesse lá?
O Grêmio tem de mudar. E muito.
O Inter ao contrário. O Inter não tem de mudar nada. Basta não mudar para ser o luzidio campeão do ano da vacina.