Eis um dos títulos mais simples e sensacionais da história do novo jornalismo digital. Estava aparafusada, essa preciosidade, no alto de uma matéria do repórter Jocimar Farina, em GaúchaZH. Contava, o atento Jocimar, que, bem... tem uma casa no meio da nova ponte do Guaíba.
Fui ler a matéria, como toda a gente. Não havia como não ler, com um título daqueles. Mas o melhor nem era ler, era ver a foto da casa que está lá, no meio da nova ponte do Guaíba.
É uma imagem curiosa. A ponte vem vindo, reta e lisa como a virtude e, de repente, falta-lhe um retângulo de concreto, um siso arrancado da dentadura perfeita. Naquele espaço mete-se o bico do telhado da casa indiferente, desafiadora, quase orgulhosa.
Essa ponte é aquela que, em um trecho próximo, foi construída tão baixa que poderia ficar sob a água, caso o nível do rio subisse com alguma chuva mais abundante. Os técnicos do DNIT foram lá, olharam, disseram que não tem problema, mas o Jocimar Farina revelou que a CGU ainda guarda suas desconfianças a respeito. Ou seja: dependendo do volume pluviométrico, o Rio Grande do Sul poderia ser o único lugar do mundo que tem uma ponte submersa. Uma façanha.
Não há dúvida: não se trata de uma ponte comum. Alguém pode achar que lhe fizeram um feitiço, que tem um sapo enterrado debaixo de um de seus pilares, que é coisa do sobrenatural. Mas, não. É mais do que isso. Essa ponte é um símbolo. É a representação de muito do que é o Brasil, um país que tenta avançar, mas a todo momento é interrompido por obstáculos criados por suas próprias precariedades.
Tiraram a casa do meio da ponte. Não deviam. Deviam deixá-la lá, como um monumento, como uma lembrança de que, para nós, brasileiros, quando tentamos ir para frente, pode haver bem mais do que uma pedra no meio do caminho.