Fiquei sabendo de um diálogo travado entre Bolsonaro e um empresário gaúcho quando ele, Bolsonaro, visitou o Rio Grande do Sul, nesta campanha eleitoral.
– O que você espera do meu governo? – perguntou o candidato.
E o empresário:
– Nada. Não espero nada. Só quero que o governo não atrapalhe.
Precisamos de um governante tão medíocre quanto honesto.
Foi uma reivindicação inteligente, se é que se pode chamar de reivindicação quando alguém pede nada. É que próximo presidente não tem de fazer um bom governo. Ele pode ser medíocre, pode ser insignificante. O ideal seria que fosse como o melhor árbitro de um jogo de futebol: invisível. Um governo do qual ninguém fala, do qual ninguém nem se lembra. Quem é o presidente mesmo?
Se o próximo presidente não apresentar nenhum projeto, se não fizer nenhum movimento diferente das liturgias do cargo, se ele for completamente anódino, ótimo. Desde que não haja escândalos durante seu tempo no governo. Ele precisa, apenas, deixar que o país siga seu curso, até que, daqui a quatro anos, aconteça uma eleição em que os candidatos sejam "normais".
O Brasil precisa voltar a ser um país normal.
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Tenho saudade de quando o Brasil era um país normal. As pessoas se importavam mais com futebol do que com política – tão saudável. Naquela época, você sabia o time das pessoas, não o partido. Você conhecia alguém e perguntava:
Agora, você conhece alguém e pergunta:
Com uma diferença: antes, ao indagar sobre o time, você fazia a pergunta diretamente para a pessoa. Hoje, você fica constrangido, porque a resposta pode virar discurso:
– Sou petê! A favor dos pobres, contra essa elite pérfida que não admite que o filho da faxineira entre na universidade!
Ou:
– Sou anti-PT! Contra a roubalheira, contra o uso do Estado por um partido formado por corruptos! Contra a divisão da sociedade em classes inimigas!
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Havia uma crença, naqueles velhos e bons tempos: a de que os problemas do Brasil seriam resolvidos quando os brasileiros passassem a se interessar tanto por política quanto se interessavam por futebol.
Quem acreditava nisso, hoje se vê, estava rotundamente enganado. Porque as pessoas passaram a debater mais política do que futebol, e a situação do Brasil não melhorou. Ao contrário, estamos imersos no lodaçal. Pior: além de aumentar seus problemas com educação, saúde e segurança, o Brasil virou um país chato. Todo mundo julgando, todo mundo cobrando, todo mundo querendo dizer o que você tem de pensar. Malas.
Por isso, precisamos de um governante tão medíocre quanto honesto. Precisamos de alguém que não faça nada de importante, que deixe as coisas acontecerem suavemente, molemente, até que se estabilizem. Precisamos de silêncio, do vazio, da mesmice dos dias iguais. Precisamos da monotonia para sair da chatice.