Quando Renato foi recontratado pelo Grêmio, dois anos atrás, a maioria dos cronistas disse que a direção do clube cometia um erro, porque ele tinha um perfil muito diferente do antigo treinador, Roger. Não concordei com essa maioria. Isso, inclusive, foi lembrado bem depois pelo dirigente que havia feito a contratação, Adalberto Preis.
– Você foi o único que elogiou a vinda do Renato – reconheceu Preis.
Renato, vencedor como jogador, tornou-se também vencedor como treinador. Mas, como seus antigos técnicos, está atado por suas convicções.
Não sei se fui o único, mas sei o que me fazia acreditar em Renato: sua inteligência e sua capacidade de liderança. Renato é dotado de um dos mais importantes predicados que uma pessoa deve ter: a lealdade. Some-se a essa outra qualidade: a sabedoria de aprender com os próprios erros.
Por ser como é, Renato se transforma em um líder capaz de extrair o melhor de um grupo de liderados. Foi o que ele fez no Grêmio e, hoje, o Brasil inteiro o admira.
Agora, em sua maturidade como treinador, ele está cometendo os mesmos erros de alguns dos maiores treinadores da história do futebol brasileiro, o que talvez não esteja acontecendo por acaso. E o que é ainda mais curioso: esses treinadores cometeram erros com ele, Renato, quando ele era jogador.
O primeiro foi o maior de todos: Ênio Andrade.
Quando falo em maior de todos, não exagero. Ênio fazia mágicas com um time de futebol. Ele mesmo havia sido um craque. Dizem que nunca errou um pênalti. Certa feita, quando Ênio comandava o Grêmio, o goleiro Leão o desafiou:
– Velho, chuta aí um pênalti. Se você acertar, pago uma cerveja.
Ênio rebateu:
– Não. Vou chutar 10 pênaltis. Se você pegar um, pago um engradado.
Ênio bateu os 10 pênaltis. E fez os 10 gols.
Bem, ele era do IAPI.
Mais tarde, como técnico, Ênio foi campeão brasileiro com Grêmio, Inter e o improvável Coritiba. Ênio definia um time e com ele seguia em frente, fazendo raras e pontuais modificações. Era um mérito. Até se tornar defeito. Por uma súbita falta de flexibilidade, Ênio cometeu o erro de não efetivar Renato como titular logo que ele apareceu nos juniores do Grêmio.
Vi isso acontecer. Fui testemunha do fenômeno. O surgimento de Renato foi um evento sensacional que só se repetiria com Ronaldinho. A torcida ia ao estádio antes dos jogos para assisti-lo na preliminar, enfiando a bola goela adentro dos adversários. Mas não adiantava: Ênio mantinha Tarciso como titular. Depois, Espinosa fez o certo: continuou com Tarciso, mas junto com Renato, e o Grêmio foi campeão do mundo.
Outro técnico que errou por teimosia, e contra Renato, foi Telê Santana. Aferrado a seus critérios de disciplina, Telê não teve sensibilidade para ficar com Renato na Seleção que disputou a Copa de 1986. Perdeu Renato e perdeu mais: perdeu também Leandro, Éder e a Copa do Mundo.
Tantos anos se passaram e hoje Renato, que foi um vencedor como jogador, tornou-se também como treinador. Mas, como seus antigos técnicos, está atado por suas convicções. Elas, que lhe valeram o sucesso, também o imobilizaram. Mas Renato mudará. Será ousado outra vez. E outra vez vencerá. Eu acredito. Sempre acreditei.