Fábio Koff foi aplaudido durante um minuto inteiro por gremistas e colorados, antes do Gre-Nal de sábado. Foi lindo, foi emocionante, foi grandioso, mas Fábio Koff não estava lá. Sempre que essas homenagens acontecem, fico pensando: por que não fizeram isso enquanto a pessoa vivia?
Claro que os familiares e os amigos de Koff se consolaram e se rejubilaram com aquela consagração póstuma, mas, ainda assim, foi póstuma. É que as pessoas têm dificuldade em elogiar os vivos. Os vivos ocupam espaço, e os maiores problemas da humanidade ocorrem devido à disputa por espaço.
Pensando nisso, nessa justa, porém tardia, homenagem a Koff, decidi que, sim, Renato merece mesmo uma estátua na Arena. Pelo que já fez e pelo que tem feito.
Esse time do Grêmio é especial. Os pósteros falarão dele daqui a 50 anos. Com todos os titulares e descansado, bate-se de igual para igual com qualquer adversário do planeta. Se for reforçado em algumas posições, se tornará invencível nas Américas, do Alasca à Terra do Fogo, e, como as hordas de Gengis Khan, fará a Europa tremer de pavor.
Não escrevo isso apesar do empate no Gre-Nal. Escrevo isso por causa do empate no Gre-Nal.
Pensando nisso, nessa justa, porém tardia, homenagem a Koff, decidi que, sim, Renato merece mesmo uma estátua na Arena. Pelo que já fez e pelo que tem feito.
Repare: na sexta-feira, eu disse, no Sala de Redação: "O Gre-Nal vai acabar em empate". Acertei o resultado. Mas me surpreendi com a partida. Porque nunca tinha visto tamanha diferença entre duas equipes da Dupla como vi neste jogo, nunca, nunca, nem nos clássicos em que houve goleada, nem quando o Inter tinha a elegância de Falcão, a eficiência de Valdomiro e a imposição de Figueroa, nem quando o Grêmio de Felipão trovejava sobre os adversários com o poder da tempestade.
O Grêmio jogou. O Inter tentou evitar que o jogo acontecesse. E, olhe, o Inter estava certo. Não foi algo vergonhoso, como muitos estão achando. Não foi atitude de "time pequeno", como disse o Renato. Foi uma imposição da realidade. Não fosse assim, o Inter seria goleado. Levaria um gol e os outros viriam de enfiada. Aí, sim, hoje estaria espadanando no opróbrio.
Pela primeira vez, nos mais de 200 Gre-Nais a que assisti, a possibilidade de goleada não era um acidente da partida, era um fato: se o Inter se abrisse, seria desventrado como um peixe do Mercado Público. A estratégia colorada, portanto, foi correta. O Inter fez o que devia ter feito, e alcançou seu objetivo.
Essa irretorquível e inédita superioridade foi construída com o trabalho de muitos, mas não seria possível sem o trabalho de um: Renato Portaluppi.
Com sua já conhecida capacidade de liderança mais concentração e dedicação surpreendentes para um pândego assumido, Renato conseguiu montar um time em que os jogadores sempre sabem o que têm de fazer, como fazer e quando fazer.
Isso é treino.
É trabalho.
Você quer identificar um trabalho bem feito, seja do marceneiro, seja do encanador, seja do médico, seja do treinador de futebol? Preste atenção ao detalhe. A comissura da boca da Gioconda. A dobra do manto da Pietà. A frase de Capote, que era resistente e flexível como uma rede de pescar. O detalhe. O gênio mora no detalhe. O Grêmio de Renato cuida de cada detalhe. É um time genial.