Pouco importa se um país é rico ou pobre ou se a desigualdade é grande ou pequena entre os que ganham mais e os que ganham menos. O que importa é o nível de bem-estar da população. Se você tiver emprego digno, boa escola para seus filhos, atendimento de saúde competente e segurança pública, você não vai se revoltar com o nababo que guarda a Ferrari na sala de estar. Você vai achar até engraçado.
Pois bem. Todos os países que oferecem altos níveis de bem-estar para a população são democracias capitalistas. Seria essa, portanto, a fórmula de sucesso para uma nação. Ora, o Brasil é uma democracia capitalista; logo, alguma coisa está errada.
O que está errado?
Respondo: é que o Brasil não é totalmente uma democracia e nem é absolutamente capitalista.
O sistema brasileiro é o avesso do chinês. Na China, eles são fechados na política e abertos na economia. O Brasil é politicamente escancarado e economicamente travado. O Brasil é paternalista com os trabalhadores e patrimonialista com os empresários. Na aparência, uns e outros são protegidos pelo Estado. Na realidade, são usados pelo Estado. A possibilidade de risco é assustadora para o "capitalismo" brasileiro. Uma contradição, porque o risco é tão inerente ao capitalismo quanto o lucro.
E a democracia?
Decerto que o país evoluiu democraticamente, sobretudo no quesito "voto". Pena que o voto seja um elemento não tão importante na democracia. Aliás, na maioria dos países que citei ontem como exemplos de sucesso (Europa Ocidental, Estados Unidos, Canadá, Coreia do Sul, Japão, Israel, Austrália e Nova Zelândia), na maioria deles, o voto é indireto, se não em todos.
Só que o mais importante em uma democracia, repito, não é o voto: é a lei. É preciso haver respeito à lei e é preciso que todos sejam iguais perante a lei. No Brasil, a Lava-Jato é uma conquista para seguirmos na direção de que todos sejam iguais perante a lei. Mas as leis ainda são desrespeitadas todos os dias no Brasil, sobretudo por aqueles que as fazem: os legisladores. Nossos políticos são o pior exemplo para a nação.
Passei toda a semana escrevendo sobre isso por causa dos últimos acontecimentos no Brasil. Antes desta semana, considerava apenas bizarros os que pediam intervenção militar. Agora vejo que estes são muitos. Quer dizer: já não se trata mais de algo apenas folclórico. A ideia ainda é ridícula, mas o fato de as pessoas a encamparem é sério.
Então, estou levando a sério. E tentei demonstrar que essa porta, a da ditadura, se hoje leva à ordem desejada, amanhã levará à inevitável desordem que a abriu.
A democracia não é fácil. A democracia, na verdade, é uma chatice. Toda essa conversa, toda essa longa discussão. Mas a democracia é o único meio para se alcançar um país justo, em que haja bom nível de bem-estar social. Não desista da democracia. A ciência já provou que ela funciona.