Sou a favor do método científico. Você faz uma observação e, a partir do que vê, formula uma hipótese. Em seguida, promove testes para descobrir se suas deduções são corretas.
A base de tudo é a experiência.
Nas áreas humanas, o método científico também pode ser aplicado, dentro de limites, claro.
Por exemplo: vamos usar o que mais se aproxima do método científico para descobrir qual é o melhor modelo de nação para o Brasil. É algo necessário, porque, veja aí na rua: há gente que quer intervenção militar, há gente que quer o comunismo, há gente que quer o liberalismo extremo. Estamos perplexos, não entendemos mais o que está acontecendo, nem para onde vamos. Precisamos chegar a um consenso, e rápido.
Sejamos cientistas, pois. Não desprezemos nenhuma hipótese a priori. Até porque, se o cientista acrescentar seu preconceito na análise, vai manipular o resultado. Vamos, portanto, nos valer da experiência concreta. Muitas foram feitas, em 10 mil anos de história da civilização. Então, tome a primeira hipótese: intervenção militar.
Entendo por que algumas pessoas pedem intervenção militar. As pessoas estão com medo no Brasil. Elas querem alguém que lhes dê segurança, mesmo que em troca tenham de entregar a liberdade. Mais até: há quem despreze a liberdade, por confundi-la com a desorganização e o desrespeito que vigoram no país.
Curiosamente, a intervenção militar, uma saída pela extrema direita, tem o mesmo princípio do populismo de esquerda: ambos acreditam que o Estado forte e controlado resolverá todos os problemas do cidadão.
Mas, como nós estamos bancando os cientistas, poderemos constatar que as hipóteses da intervenção militar, que é igual à ditadura, e do populismo estatizante, que é igual ao socialismo, não funcionam. Para comprovar isso, basta perscrutar pelos escaninhos da nossa própria história ou pela história de outros países. Em nenhum lugar, em nenhum tempo, de nenhuma forma alguma ditadura funcionou, seja de direita, seja de esquerda. Falharam também os regimes comunistas, que, aliás, não deixam de ser formas de ditadura.
Quando um brasileiro de direita alega que "no tempo dos militares" havia emprego, crescimento e segurança, incorre no mesmo erro do brasileiro de esquerda que alega que "no tempo de Lula" havia emprego, inclusão e crescimento. Ambos estão desconsiderando que tanto os governos petistas quanto os militares erraram ao não corrigir as estruturas tortas do Brasil, como as deficiências na educação básica, a falência do pacto federativo e as injustiças tributárias. As crises que sucederam ambos os governos foram originadas, exatamente, nos governos. Natural: você faz a conta agora e paga depois.
Estamos perplexos, não entendemos mais o que está acontecendo, nem para onde vamos. Precisamos chegar a um consenso, e rápido.
A saída seria, então, o neoliberalismo de raiz? Também não é o que diz a experiência. O mercado completamente livre cria riqueza, é verdade, mas para os ricos. Os pobres continuam pobres.
O que a experiência demonstra? Vamos pesquisar, como bons cientistas que somos. Quais são os lugares em que as pessoas vivem com mais bem-estar, onde há equilíbrio entre liberdade e segurança e onde os mais fracos têm maior proteção?
Pegue o mapa. Esses países são os da Europa Ocidental, os Estados Unidos, o Canadá, Israel, Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia.
Todos são democracias capitalistas. Todos. Em alguns, o mercado tem mais liberdade. Em outros, o Estado é mais robusto. Mas esses são detalhes operacionais. No cerne, todos são democracias capitalistas.
Só que o Brasil, em tese, "É" uma democracia capitalista. Por que, então, as coisas não têm dado certo? Bem. Vou ter que prosseguir na próxima coluna.