Nem todos os empresários são iguais. Luiza Trajano, do Magazine Luiza, considerada a mulher mais rica do Brasil, lidera um grupo de mulheres e homens, voluntários, na iniciativa Unidos pela Vacina. Esse grupo fez uma enquete em 6 mil municípios com uma pergunta básica: como podemos ajudar?
O levantamento trouxe necessidades básicas das prefeituras que efetivamente aplicam as vacinas disponíveis, que o grupo se lançou a atender doando tempo, recursos, conexões. Material de refrigeração, pessoal, uniformes, logística, insumos – tudo isso faltava nos locais de vacinação, e cada um vem ajudando como pode para a árdua tarefa de vacinar contra a covid-19 num país imenso, populoso e profundamente desigual.
Já outros empresários pressionaram junto à Câmara de Deputados para aprovar uma lei que viola todos os princípios de saúde pública, autorizando empresas a adquirir vacinas para seus funcionários, alegando que estarão contribuindo para diminuir a fila de vacinação, auxiliando assim o SUS. Eles não estariam passando à frente do governo federal, que alega já ter encomendado mais de 500 milhões do doses de vacinas, suficiente para vacinar toda a população. Impossível não perguntar, então: se já foram compradas vacinas suficientes, para que comprar mais?
Outro ponto importante: as farmacêuticas produtoras das vacinas comprovadamente eficazes repetidamente respondem que não venderão vacinas a não ser para governos. Até para elas está difícil atender a essa demanda: companhias gigantescas como a Pfizer e a Janssen tentam consórcios até com concorrentes para ampliar a capacidade produtiva e realizar a entrega das vacinas a tempo de impedir uma catástrofe global. Então, que vacinas são essas que esses empresários alegam ter “maior agilidade” para adquirir?
Os deputados que aprovaram essa lei alegam que há outros laboratórios, na China e na Índia, vendendo vacinas para a covid-19. Seriam vacinas que não revelaram seus resultados de eficácia? Respondem que são de laboratórios certificados internacionalmente. Mas certificação de laboratório e eficácia de um produto contra uma doença são coisas diferentes. Por exemplo, a Merck é certificada internacionalmente e produz ivermectina, também certificada. Mas ivermectina não tem eficácia comprovada contra a covid-19, então não resolve o problema.
Uma vacina cuja eficácia não foi claramente demonstrada e amplamente escrutinada não vai ajudar a resolver o problema da vacinação no Brasil. O país não contratou vacinas quando deveria e até agora vacinou menos de 3% da sua população. Morrem 4 mil pessoas por dia – para o governo, esse é o preço normal que se paga para um país funcionar.
As pessoas que apoiam essa lei apoiam o princípio de que alguém, por ter prosperado em seu negócio, tem mais direito à vida. Mas o pior é que, na sua profunda ignorância, falham em compreender que nem todas as vacinas são iguais. Não entendem, nem se preocupam em entender, o que é uma vacina eficaz. Talvez alguns pensam que, mesmo que não funcione, podem ganhar algum dinheiro com isso. Em um país onde impera a desigualdade, nos igualaremos – todos – no desastre que isso inevitavelmente trará.