O que você vai fazer a respeito da pandemia? O plano de enfrentamento de Joe Biden pode ser resumido por: ouviremos os cientistas. Testar o máximo de pessoas possível; rastrear contatos para tentar conter o espalhamento; sequenciar o maior número de casos identificados, ajudando a mapear a evolução da agressividade do vírus; vacinar em massa, vacinar rápido; usar legislação de guerra para fabricar o máximo necessário de insumos para serem estocados para os hospitais. Todas as medidas adotadas pelo novo presidente dos EUA estão centradas nas recomendações que os cientistas têm feito desde o início da pandemia, solenemente ignoradas por seu predecessor.
Pergunto o que você vai fazer porque, a esta altura, acredito que a maioria já percebeu que ninguém vai fazer nada por nós. No Brasil, desde o início, o governo negou a gravidade da pandemia, ignorou a importância do isolamento em nome da economia e investiu em um tratamento inútil ao invés de negociar vacinas. Essa foi a receita perfeita do caos, fazendo com que o país seja hoje o pior lugar do mundo para se viver. Tem quem diga que sua vida não mudou e está tudo bem. Eu respondo: espere só alguns dias.
O Brasil se encaminha para uma profunda crise. Nunca foi tão óbvio o quanto a ciência é fundamental para a sociedade. As variantes agressivas do vírus surgidas no Brasil pelo total descontrolem epidemiológico colapsaram a saúde no Amazonas e já se estendem a Roraima, Rondônia e Acre. Em dias, chegarão aqui.
O número de mortos em Manaus cresceu 600% em janeiro. Claramente todo o estoque de cloroquina do governo não funciona, não importa que eles, prefeitos, governadores e, infelizmente, conselhos de medicina mintam que não se sabe se funciona ou não.
Esse orgulho de ser ignorante quanto à ciência pautou desastrosas políticas externas e internas. Talvez o exemplo mais claro seja a inépcia na negociação com a Pfizer. Primeiro, foi escolhido depender das multinacionais, quando podíamos ter desenvolvido uma vacina brasileira. Apostar tudo em importar vacinas e insumos numa pandemia é jogar a toalha no começo – essa luta não era, claramente, prioridade. Escolheu, mas não fechou compras antes do fim dos ensaios clínicos: total incompreensão da gravidade do momento, pois não há produção suficiente para o mundo.
Tem quem diga que sua vida não mudou e está tudo bem. Eu respondo: espere só alguns dias.
Governos preocupados com sua população entenderam isso antes e adiantaram as encomendas. E o desconhecimento de história e de como funcionam as vacinas e o próprio SUS culminaram na nota vergonhosa sobre a Pfizer que visa apenas confundir as pessoas. As cláusulas citadas como leoninas são conhecidas há décadas. Quem acha que o ministro está nos protegendo não quer ver que proteção mesmo era garantir o isolamento, testar todos e focar em vacinas desde cedo.
Os empresários que tentam comprar vacinas agora escancaram que poucos ainda acham que tem alguém no comando da questão. Os parlamentares, contudo, se alinham hoje para manter o status quo. A pandemia vai longe no Brasil. E você, vai fazer o quê?