Na última quarta-feira, publicamos a seguinte notícia na capa de Zero Hora: “Seguradora vai devolver dinheiro a lesados em golpe”. No dia seguinte, também no alto da primeira página, noticiamos: “Empresários viram réus por não entregar casas”.
As duas informações sintetizam o impacto social de reportagens do Grupo de Investigação da RBS.
Criado em dezembro de 2016, o GDI reúne 11 repórteres de ZH, Rádio Gaúcha, RBS TV e Diário Gaúcho, sob o comando da editora Dione Kuhn, que produziram, em dois anos e meio, cerca de 70 frentes de investigação – poucas, porém, repercutiram tanto quanto as mencionadas acima.
Para investigar seguros e créditos consignados, o repórter Carlos Rollsing, em parceria com Jonas Campos, da RBS TV, infiltrou-se em grupos de WhatsApp de profissionais especializados em falcatruas. A primeira reportagem publicada foi sobre irregularidades em empréstimos consignados. A partir daquela apuração, surgiram pelo menos duas novas fontes. Uma delas mandou um e-mail com a seguinte recomendação: “Dê uma olhada na Centrape (Central Nacional dos Aposentados e Pensionistas), que faz descontos no contracheque de uma pessoa das minhas relações, mas essa pessoa não autorizou nada”. Era o fio de um novelo.
– Comecei a fazer pesquisas a respeito da Centrape. Poucos dias depois, apareceu uma segunda fonte, e o Jonas Campos me procurou para oferecer contato com essa nova fonte. Firmamos a parceria e a nova fonte me colocou dentro de três grupos de corretores de crédito e seguros. Uma vez lá dentro, de três grupos, logo pulei para seis – conta Rollsing.
Nos grupos, negociavam-se seguros sem autorização e até a venda de documentos e dados sigilosos de idosos. A partir desses grupos, o GDI mostrou que agenciadores e correspondentes bancários credenciados junto à seguradora falsificavam assinaturas de aposentados para incluir nos contracheques descontos por um “seguro associativo” oferecido pela Centrape. A repercussão foi imediata:
O Procon notificou a Sabemi, e a Defensoria Pública abriu um procedimento para acompanhar o processo de restituição extrajudicial dos valores. A empresa promete ressarcir vítimas de descontos não autorizados.
A Susep abriu fiscalização e suspendeu as operações da Sabemi em empréstimos.
O INSS suspendeu repasses à Centrape por 60 dias.
No campo administrativo, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) anunciou que suspenderia por tempo indeterminado a autorização para que a empresa conceda empréstimos aos consumidores.
A outra investigação que repercutiu na última quinta-feira tem relação com uma reportagem de Humberto Trezzi. Em maio, ele revelou que 585 imóveis comercializados pela construtora Báril em quatro condomínios fechados em Imbé, Tramandaí e Xangri-lá permanecem inacabados. A crise da construtora especializada em empreendimentos de alto padrão era desconhecida para a maioria dos gaúchos.
Após a publicação, a Polícia Civil realizou uma operação que resultou no congelamento de bens e de contas bancárias dos donos da construtora. A matéria do GDI foi anexada pela Promotoria de Defesa do Consumidor à ação civil pública que exige indenização de cerca de R$ 50 milhões a clientes lesados e instituições bancárias. Cinco gestores da Báril e 13 empresas tornaram-se réus na 16ª Vara Cível de Porto Alegre.
Nada é mais gratificante do que ver reportagens investigativas ajudando a transformar realidades, colaborando para o fim de malfeitos. É para isso que o GDI existe.