Em julho, eu, meus filhos e minha mulher, além de tios e primos dela, moradores do Rio, fomos a um Fla-Flu pelo Brasileirão no Maracanã. Embarcamos no metrô, em Botafogo, às 13h30min para o clássico que se iniciaria às 16h. No vagão, dezenas de tricolores e flamenguista sentavam lado a lado rumo ao templo do futebol mundial.
Desembarcamos na Estação Maracanã antes das 14h. Centenas, talvez milhares, de torcedores dos dois times dividiam as mesmas calçadas. Não havia escolta de PMs ou áreas isoladas entre a estação e o Maraca.
Ingressamos na área do estádio e seguimos pelas amplas rampas de acesso do Jornalista Mario Filho sem percalços. Paramos em um bar e compramos pipocas, água e, claro, chopes, porque no Rio é liberado o consumo de álcool nos jogos, antes de ocuparmos os nossos lugares. E ali ficamos. Na nossa frente, no lado Norte, estava a torcida do Flamengo. À direita e à esquerda, nas arquibancadas centrais, torcida mista com espaço suficiente 40 mil pessoas.
Ao longo dos mais de cem minutos de partida escutamos músicas bem-humoradas e até xingamentos de ambas as torcidas, mas não ouvimos nenhum canto homofóbico, racista ou misógino.
Ao final do 0 a 0 pelo primeiro turno do Brasileirão, com dois gols anulados e um jogador expulso, todos os 62.354 presentes clássico saíram no mesmo momento — nada de uma das torcidas permanecer horas confinada à espera das melhores condições para evacuar a área sob forte aparato policial. Na rua, flamenguistas transitavam em meio a um mar de tricolores em clima de absoluta normalidade.
Não sou Poliana. Sei que a violência cresce e que, cada vez mais, mortes estúpidas são registradas no futebol brasileiro. E que flamenguistas e tricolores já proporcionaram cenas de barbárie no Rio. Mas para quem convive com a rivalidade sem limites, em que torcidas sequer dividem o mesmo ambiente, o que Alicia, Santiago, Vivian e eu vivenciamos naquele 16 de julho foi uma aula de boas maneiras. Um exemplo que poderia ser seguido pela gauchada que se diz civilizada no Gre-Nal do próximo domingo, às 16h, no Beira-Rio.