Como contei nas últimas Cartas do Editor, há um mês quase todos na Redação Integrada estão em teletrabalho, evitando ao máximo sair de casa, colaborando para achatar a curva de contágio do coronavírus.
Mas há um grupo de profissionais que, pela natureza da atividade, segue indo às ruas todos os dias: os fotógrafos. É sobre eles que vou falar a partir de agora.
Desde que as equipes foram deslocadas para home office, fotógrafos receberam kits com máscaras e álcool gel.
Ninguém sai para pautas sem proteção.
Por isso, quando a história da pandemia que está mudando o mundo for contada, quem pesquisar as páginas de Zero Hora vai encontrar um precioso acervo fotográfico.
– Somos os olhos das pessoas que precisam ficar em casa. Daqui a 50 anos, nossas fotos em ZH vão ajudar a contar o que aconteceu no Rio Grande do Sul – diz Jefferson Botega.
Aos 47 anos, Jeff, como Botega é chamado pelos colegas, é um profissional temperado pelas experiências extremas. Em seu currículo, há viagem à Antártica, cobertura de terremoto e tsunami, de Copa do Mundo e de mundiais disputados por Grêmio e Inter no Oriente Médio. Em termos de complexidade, nada se compara com o fazer jornalístico em tempos de covid-19:
– É uma cobertura completamente diferente de todas as que fiz em 25 anos de profissão.
O também fotógrafo Marco Favero, 28 anos, pondera que o sucesso do fotojornalismo depende, muitas vezes, da conexão entre fotógrafo e fotografado, o que tem se tornado mais difícil, por questões sanitárias.
– A principal dificuldade é aprender a fotografar o invisível. Como traduzir em imagens a guerra contra um inimigo que não se vê? Outro obstáculo é o distanciamento necessário dos entrevistados – pondera.
Quando chega da rua, Favero toma os seguintes cuidados:
– Subo sete lances de escadas para evitar contato com as pessoas, já que o meu prédio tem vários idosos. Tiro as botas no corredor e ali ficam até a próxima pauta. A calça e a camiseta ficam penduradas na porta da sala. Em nova pauta, visto o mesmo conjunto. Caso contrário, ponho para lavar.
Colega de Jeff e Favero, Mateus Bruxel, 37 anos, conta que nunca foi tão importante a produção dos assuntos:
– É importante estar no local certo na hora certa, sem perder tempo, e se expondo o mínimo possível para seguir contando essa história.
Aos 57 anos, Ronaldo Bernardi, um dos mais premiados fotógrafos gaúchos, usa lentes com alto poder de aproximação para se manter longe das pessoas. Munido com tubos de álcool gel nos bolsos, máscara no rosto e lenços de papel, Ronaldo se despede da mulher, Karla, da filha, Juliana, e dos cãezinhos Mel e Bento antes de os primeiros raios de sol surgirem no horizonte.
– Tomo cuidados para me proteger e para proteger quem eu amo – conta Ronaldo.
Habituado a correr oito quilômetros por dia e a praticar duas horas de musculação, o experiente fotógrafo ainda tenta se adaptar à rotina de isolamento:
– Me sinto um urso hibernando sem poder se exercitar. Mas vai passar.
Como Jeff, Favero, Mateus e Ronaldo, outros sete fotógrafos continuam saindo de casa para cumprir o ofício de informar com imagens.