Eles não se conhecem e atuam em diferentes profissões, mas têm a missão de seguirem trabalhando em meio ao distanciamento social proposto para conter o avanço da pandemia de coronavírus. Nesta semana, aleatoriamente, o repórter fotográfico de GaúchaZH Jefferson Botega percorreu as ruas de Porto Alegre para encontrar estes profissionais que desempenham atividades consideradas essenciais para a engrenagem urbana continuar funcionando.
Numa distância mínima de dois metros, indicada pelo Ministério da Saúde, Botega registrou em imagens o trabalho de um perito criminal, uma policial civil, um bombeiro, uma policial militar, um açougueiro, uma florista, um agente funerário e uma gari.
Máscaras ou escudos faciais e álcool gel foram acrescentados aos uniformes. Alguns passaram a usar luvas com mais frequência. Na vida pessoal, cuidados redobrados antes de entrarem na própria casa. Histórias distantes e, ainda assim, tão próximas.
Sem jamais terem se falado, estão conectadas pelas dúvidas, medos, certezas, rotinas e até propósitos para quando o vírus, que já matou mais de 2 mil brasileiros, se tornar apenas mais uma parte da história recente do país.
Apesar de não se conhecerem, os oito compartilham até o mesmo pensamento: vai ficar tudo bem.
Mudança no trabalho
“A minha rotina alterou muito. Com o surgimento da pandemia, congelei o estágio obrigatório na faculdade e reduzi as férias no trabalho. Passei a desempenhar as minhas funções com cuidados de higiene redobrados. Lavo as mãos com mais frequência, uso álcool gel. Também recebi tarefas que não eram comuns antes da pandemia, como distribuir os equipamentos de proteção individual aos colegas que estão diretamente na rua, todos os dias. Me sinto fazendo a diferença num momento tão importante.”
Angélica Almeida, 33 anos
Policial Militar
Estudante do 10º semestre de Medicina Veterinária
Novas práticas em casa
“Na vida pessoal, tudo mudou. No ônibus, eu evito colocar as mãos no rosto ou na roupa. E quando desço, dou um jeito de lavar as mãos. Quando chego em casa, antes de pegar no colo o meu filho Gael, de sete meses, mudo de roupa e tomo banho. A família me apoia, porque preciso trabalhar, mas me pedem para tomar cuidados com a luva, o álcool gel e a máscara. Eu não tenho medo do vírus, mas tenho receio de pegar e passar para o meu filho ou meu marido, que é asmático.”
Marisete de Bittencourt Silva, 22 anos
Auxiliar de vendas em uma floricultura
Responsabilidade na profissão
“Mudamos nossos protocolos na sala de preparação e também nas remoções. Me sinto com mais responsabilidade para atuar num serviço essencial. Além disso, preciso ter respeito pelo nosso trabalho. Estou na linha de frente. Por trabalhar num serviço de risco, chego em casa e vou direto ao banheiro tirar a roupa para lavar. Para não ter problemas para a família. Na vida mudou muita coisa, nenhum brasileiro tinha o costume de lavar as mãos a cada 10 minutos. Acabamos pensando até diferente depois de tudo isso.”
Cristiano Picoli Kindlein, 39 anos
Agente funerário
Mistura de sentimentos
“A família se preocupa, mas entende a necessidade e o meu papel na sociedade. Estou lá para ajudar a todos, mas é um clima de pavor entre os clientes. Muitos são de idade, estão preocupados e não estavam preparados para a situação. Eu tento auxiliá-los da melhor maneira possível. Ao mesmo tempo que tenho medo de pegar a doença, tento ficar tranquilo e pensar no meu futuro e dos meus netos.”
Luiz Antônio Boeira, 65 anos
Açougueiro
Reflexões em meio à pandemia
“Tenho procurado viver com tranquilidade, para não afetar a minha sanidade mental. Quando não estou no plantão, faço exercícios por meio de aplicativos e pego sol da janela de casa. Penso que daqui a uns quatro meses, a situação comece a voltar ao normal. E isso ajuda a refletir sobre muitas coisas que a gente não valorizava antes. É tão bom fazer coisas simples, como encontrar uma pessoa ou abraçar alguém. Mas me preocupo com quem não consegue viver com este tipo de situação, podendo pensar até em suicídio. Sempre que encontro alguém angustiado, tento ajudar para deixá-lo mais tranquilo.”
Evandro Dalla Vecchia, 39 anos
Perito criminal
A importância da técnica
“É uma situação anormal. No entanto, como bombeiro, sou treinado para lidar com situações de calamidade. Procuro me apegar, neste momento, à doutrina e às técnicas da minha profissão. Isso é uma questão transitória e vai passar. Até lá, precisamos nos manter preparados tecnicamente.”
Vagner Silveira da Silva, 39 anos
1º tenente no Corpo de Bombeiros
Solidariedade é a palavra
“Me sinto honrada em fazer parte de um serviço essencial em um momento que, mais do que nunca, podemos atuar não somente como uma polícia repressiva, mas, também, como uma polícia mais humanitária. Por exemplo, orientando e auxiliando na entrega de doações a pessoas carentes. Tenho vivido um dia de cada vez. Entendi que com tranquilidade, informação e autocuidado posso ter a minha consciência tranquila de que estou fazendo o meu melhor. Sugiro que as pessoas que puderem ajudar, de alguma forma, quem está passando por necessidade este é o momento de estender a mão ao próximo."
Fabiana Justo, 37 anos
Escrivã de polícia - policial civil
União de todos
“Atualmente, vejo a cidade de Porto Alegre dividida entre os que estão preocupados mesmo e aqueles que continuam levando na brincadeira. Me preocupo porque é uma situação muito séria e temos que nos unir para vencermos esta batalha. Por favor, quem puder ficar em casa, fique em casa.”
Maria do Carmo Barnabé, 48 anos
Gari