Sempre que falamos em combate ao feminicídio as explicações das autoridades são sobre a dificuldade de evitar crimes desse tipo. Porque são agressões que acontecem entre quatro paredes, porque muitas vezes a vítima não denuncia, ninguém sabe, não há sinais ou quem viu não quis se meter. É uma realidade cruel e que causa o sentimento de impotência. Mas nem sempre é assim. Às vezes é até pior. Infelizmente não tem sido raros os casos em que mulheres pedem socorro e mesmo assim acabam mortas.
A vítima da quinta-feira foi a Paola Dornelles da Silveira, de 24 anos. A Paola era mãe de dois filhos. Na semana passada, pediu socorro. Procurou a Polícia e disse que estava sendo perseguida pelo ex-marido. Conseguiu uma medida protetiva, mas não deu tempo de escapar de dois tiros, no meio da rua, em Encruzilhada do Sul. Ela foi assassinada. Por ser “só” perseguição, não houve entendimento de que seria caso de prisão preventiva. O homem foi preso e liberado horas depois. A primeira coisa que ele fez foi, de novo, perseguir a mulher. Dessa vez para matar. O que sobrou da família foram dois órfãos de pai e mãe.
Em fevereiro do ano passado, em Uruguaiana, a Kelly Lidiane Moreira, com 36 anos, foi também assassinada pelo ex. Ela tinha ido à delegacia para denunciar a agressão. Estava grávida. Chegou a pensar que conseguiria escapar. Pois o homem foi preso e liberado horas depois porque a plantonista entendeu que não havia motivo para o flagrante. A primeira coisa que ele fez ao sair da delegacia foi... sim, foi matar a Kelly a facadas.
Covardes e criminosos. Doentios, mas não a ponto de não precisarem responder pelo que fizeram. Ao contrário. Homens que acham aceitável ou justificável bater em mulher precisam se tratar. Os que batem, deviam fazer o favor de não conviver com as pessoas, de não se relacionar com mulheres. Se baterem, que apodreçam na cadeia. Talvez nem seja mais politicamente correto escrever isso, mas quem não fica indignado com um crime evitável como os citados acima não conseguiu se imaginar na pele de uma delas ou dos pais dessas mulheres.
Para além dos agressores é preciso reiterar que houve a chance de quem recebeu as denúncias e pedidos de não deixar que essas mulheres fossem assassinadas. Alguém precisa ouvir os gritos de socorro e não tapar os ouvidos como se não fosse da sua conta. Se o feminicídio é difícil de ser evitado, precisamos abrir bem os olhos para enxergar sinais. Muitas vezes a agressão é psicológica, em outras é física, ambas muito violentas e fortes. Nos chama mais atenção quando chega ao extremo de terminar em funerais de mulheres que deixam filhos e saudades, mas às vezes a morte também acontece aos pouquinhos, todos os dias.