Kerollyn, Bernardo, Mirella, Ana Pilar são alguns, e não são exceção. Em comum, crianças que sofreram nas mãos de quem deveria proteger e cuidar.
Hoje em dia se entende que não é aceitável maltratar em uma mulher ou em um idoso, para citar dois grupos vulneráveis. Para as crianças, muitos ainda acham que a violência é a solução. Na verdade, quem apanha cresce achando que é normal resolver as coisas com agressões e acaba se submetendo ao que vivenciou na infância. Isso quando sobrevivem e viram adultos, o que não aconteceu com essas quatro crianças. A primeira foi encontrada no lixo na semana passada. O caso Bernardo ficou conhecido em 2014. A Mirella foi morta em Alvorada, aos três aninhos de idade, pelo padrasto e com a mãe sabendo o que acontecia. A Ana Pilar foi esfaqueada pela mãe em Novo Hamburgo faz poucos dias.
Omissão, negligência, abandono. Quando alguém pede socorro, especialmente uma criança, o pedido não pode ser negado. Muitas vezes ela não vai conseguir gritar ou denunciar, como o Bernardo fez há mais de 10 anos quando, em vão, procurou ajuda. É preciso observar, entender sinais, enxergar que tem algo errado — e agir. A roupa malcuidada, a necessidade de cuidar dos irmãos por causa da ausência dos pais, as noites dormindo em um carro abandonado. A carência de uma menina de nove anos que pedia abraços. Uma família conhecida pelo Conselho Tutelar.
Desde que virei mãe evito saber detalhes de casos como o da Kerollyn Souza Ferreira. Quando o corpo dela foi encontrado no conteiner, houve dúvida se era uma criança ou uma boneca. Nesse caso, de nada adianta eu me fechar em uma redoma que não me mostre o que houve. Ao contrário, precisamos todos saber para poder cumprir com o nosso papel. Algo que quem foi eleito para isso não fez, embora tenha sido avisado pela vizinha ao menos vinte vezes. Cada detalhe choca mais. Como um conselheiro tutelar dorme depois de receber alertas de que uma criança está sofrendo? Nem falo no caso extremo, da morte, mas no dia a dia. Essa criança não precisava ter morrido para escancarar o descaso com a vida. Uma agressão já era motivo suficiente para o conselheiro fazer o que é sua obrigação: acionar Polícia, Ministério Público, Justiça ou o que for.
Conselheiros: honrem seus cargos. Façam seu trabalho de forma transparente e responsável, senão a sociedade, diante de tantos relatos que surgem quando falamos do trabalho de vocês, vai sempre se questionar para que servem os conselhos. Aliás, talvez em vez de somente uma eleição sem grande apelo à população em geral, seja necessário repensar a escolha fazendo uma prova de conhecimento e de formas de agir em diferentes situações. Precisamos de profissionalismo em algo tão sério, e não cabide de cargos ligados a tudo, menos ao compromisso de cuidar das crianças e adolescentes.