A Brigada Militar (BM) de Uruguaiana, na Fronteira Oeste, foi acionada na noite de sábado (11) para atender uma ocorrência relacionada à Lei Maria da Penha. Uma mulher havia sido agredida pelo companheiro. Ao constatarem o fato, os policiais militares encaminharam ambos para a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) da cidade. No local, de acordo com o boletim de ocorrência, o fato foi registrado e foram encaminhadas as medidas protetivas de urgência em favor da vítima, contudo, o delegado plantonista teria entendido que não havia configuração de flagrante, e o suspeito foi liberado. O homem voltou à residência da companheira e matou a mulher com pelo menos quatro facadas nas costas.
Kelly Lidiane Carvalho Moreira, 36 anos, estava grávida de cinco meses de um filho do próprio investigado, com quem convivia havia pelo menos um ano. Ela deixa quatro filhos, com idades entre cinco e 17 anos, de outro relacionamento. O sepultamento ocorreu nesta segunda-feira (13), por volta das 11h, no município. Segundo o boletim de ocorrência ao qual GZH teve acesso ao entrar em contato com familiares da vítima, o suspeito foi identificado como Guilherme Pansardi Grisóstimo. GZH tenta identificar a defesa dele para contraponto.
Em nota, a delegada Regional de Alegrete, Daniela Borba, afirma que o delegado plantonista que atendeu a ocorrência na noite de sábado entendeu que não estava diante de um caso que configurava flagrante, mas, mesmo assim, fez o registro de ocorrência envolvendo lesão corporal e determinou que fossem encaminhadas as medidas protetivas de urgência. A delegada diz que será apurada eventual falha ou omissão por parte do plantonista, que não teve o nome divulgado (veja abaixo o texto na íntegra).
Sobrinha da vítima, Nathiele Cardoso, 20 anos, diz ter testemunhado os fatos no dia do crime e, inclusive, agressões anteriores sofridas pela tia, de quem era vizinha. Em um desses episódios, em janeiro deste ano, relata, presenciou o suspeito ingerindo álcool e, depois, agredindo Kelly Lidiane. Nathiele conta que, na ocasião, disse que chamaria a polícia, mas o companheiro da tia ameaçou colocar fogo na residência.
A sobrinha relata que, no sábado, depois de ser ouvida na delegacia e voltar pra casa, Kelly Lidiane foi surpreendida e atacada pelo suspeito logo após a viatura policial deixar o local
— Eu estava lá e vi tudo. Tentei impedir, mas foram facadas nas costas da minha tia. Ela simplesmente me olhou e disse: "Me larga, eu já estou morta, pega e te salva, ele vai te matar" — diz a jovem.
A viatura policial foi acionada novamente pelo telefone 190 e voltou ao local, mas, desta vez, não mais por agressão e sim por feminicídio. A prisão em flagrante foi lavrada na DPPA como caso de assassinato envolvendo questões de gênero.
Leia a nota da Polícia Civil na íntegra:
"Com relação ao fato que resultou, infelizmente, na morte de uma mulher em Uruguaiana, a autoridade policial de sobreaviso na 4ª região policial, no final de semana, esclareceu que na primeira ocorrência determinou as medidas cabíveis para o caso diante da situação que lhe foi repassada em regime de plantão, ou seja, foi determinado o registro de ocorrência e o encaminhamento de medidas protetivas de urgência, por entender, dentro da discricionariedade das suas funções, que naquele momento não havia elementos que justificassem a autuação em flagrante.
Cabe registrar que o autor do feminicídio foi preso, autuado em flagrante e responderá por inquérito policial, procedimento que será encaminhado no prazo legal ao Poder Judiciário, lembrando que a delegada responsável também representou naquela oportunidade pela decretação da prisão preventiva do autor".