Pelotas ainda chora a perda de seus filhos. As mortes de sete atletas e do coordenador técnico do projeto Remar Para o Futuro e do motorista da van que os trazia do Campeonato Brasileiro da modalidade, disputado em São Paulo, além de trágica reacende um debate: o apoio ao esporte. Entenda-se aqui o que não é futebol.
E uma das postagens nas redes sociais do Remo Tissot deixa isso bem claro:
"Uma semana de competições em São Paulo, dois dias de viagem de van, incertezas sobre viajar ou não até um dia antes da viagem por questões orçamentarias, desistimos de levar os nossos barcos por questões de segurança, também um dia antes da viagem, resumindo, um cenário de incertezas..."
Mas por que tantas incerteza? Por que a confirmação de viagem ocorreu apenas na véspera? A resposta está na mesma postagem do clube:
"No último momento, horas antes do horário marcado para a viagem, uma "mão amiga", nosso coordenador geral, professor Fabrício Boscolo nos tranquilizou e garantiu que pudéssemos viajar com seus recursos próprios, até que o nosso orçamento previsto para essa viagem, uma emenda impositiva destinada pelo vereador Jone Soares fosse devidamente liberada para arcar com todos os custos da nossa viagem.
Enfim, desafios que instituições e "pequenos" projetos enfrentam na sua rotina diária e que infelizmente representam a grande maioria que faz esporte no nosso Brasil".
O que é descrito aqui é exatamente o que a maior parte dos atletas brasileiros enfrenta: a falta de recursos e até mesmo de incentivo.
Em alguns momentos já escrevi aqui que apoiar o esporte não é patrocinar ou falar de outras modalidades apenas de quatro em quatro ano para surfar na onda das vitórias de Rebeca Andrade, Rayssa Leal, Tati Weston-Webb e Alisson dos Santos — apenas para citar medalhistas olímpicos da atualidade. Apoiar o esporte é dar suporte, recurso. É fazer o que muitos anônimos como o professor Oguener Tissot fez ao criar o projeto Remar Para o Futuro e que detectava jovens talentos em escolas públicas de Pelotas.
O Remar Para o Futuro tem que seguir. Em memória dos que perderam a vida na BR-376 no Paraná, o projeto merece reconhecimento e apoio, assim como tantos outros espalhados pelo nosso Rio Grande do Sul e pelo país.
Com patrocinadores e recursos suficientes, podemos ter milhares de jovens atletas brilhando e outros tantos sendo introduzidos na sociedade através do esporte. A inclusão — palavra que incomoda muito — deve ser entendida.
É necessário dar mais visibilidade a projetos que revelam atletas, que formam cidadãos. É obrigação da sociedade apoiar. E aqui uma reflexão para o meio em que vivo. É preferível dar espaço para quem pode contribuir com uma sociedade melhor do que para discussões vazias como as que acompanhamos nos últimos dias aqui pelos pagos, onde boquirrotos colocaram em dúvida a lisura e a honestidade de um árbitro e sequer tiveram a dignidade de se desculpar pelas palavras após nada do que eles terem imaginado ter acontecido.
O apoio e o incentivo podem evitar que novas tragédias ocorram e podem ajudar a transformar a sociedade. Para que notas de pesar não precisem ser escritas e recebam respostas como a de Ítalo Fontoura Guimarães, irmão de Henri, uma das vítimas, ao ler o que a Confederação Brasileira de Remo (CBR) postou em uma rede social após o acidente:
"A prefeitura de Pelotas, os patrocinadores, vocês (CBR), todo mundo envolvido… Não tinham dinheiro para as passagens de avião… Mas terão dinheiro para o transporte deles de volta, após estarem mortos. Vocês entendem a hipocrisia disso?”.
A resposta dura é de quem perdeu alguém que jamais sairá de sua memória, de quem terá uma dor eterna. É um grito de socorro.