A sede do projeto “Remar para o Futuro” costuma estar cheia de segunda a sexta-feira na parte da tarde e também aos sábados com os 27 atletas que fazem parte da maior iniciativa esportiva e social de Pelotas.
Nesta segunda-feira (21), os barcos a remo estavam guardados, mas o local estava povoado por outro motivo. O destino de oito participantes – sete atletas e o coordenador — do projeto e de inúmeros familiares foi modificado a partir das 21h40min do último domingo (20), quando uma carreta teria perdido os freios e atingido a traseira da van onde estavam os integrantes do projeto. As mortes consternaram a cidade.
No local, na Rua Cidade do Aveiro, 500, à beira do Arroio Pelotas, duas iniciativas da modalidade dividem o mesmo teto. De manhã, o Remo Tissot, de Oguener Tissot, morto no acidente da madrugada, tem suas aulas. Na parte da tarde, também sob a coordenação do mesmo professor, o projeto social “Remar para o Futuro” recebe os alunos, visto que a maioria deles ainda estuda na rede pública pelotense.
No corredor que liga a parte com equipamentos de academia à área dos barcos, um quadro, acima dos cabides com coletes salva-vidas, explica a dinâmica do dia a dia.
Antes de qualquer atividade na água, assim que os alunos chegam, são cinco minutos de aquecimento geral – em uma bicicleta ergonômica ou pulando corda. A sequência tem um trabalho de mobilidade e um treinamento que engloba toda a região central do corpo, fundamental para os remadores.
Os alunos só vão para a parte da água depois da regulagem do barco e da explicação do treino do dia, devidamente equipados com coletes salva-vidas. As etapas são escritas no quadro branco, de forma didática e educativa para os alunos. Palavras como “explicar”, “auxiliar”, “acompanhar”, “orientar” e “informar” são repetidas exaustivamente.
Em meio à presença de tantas pessoas, um local do ambiente permanecia praticamente intocável. A sala de Oguener Tissot, coordenador do projeto “Remar para o Futuro”, parecia pronta para recebê-lo novamente.
— Eu dizia para ele “arruma essa sala”, mas ele deixava sempre bagunçada— disse Veronica Diedrich, ex-mulher de Oguener e uma das idealizadoras do projeto.
Na parede, de frente para a mesa onde se sentava, mais um quadro, dessa vez com a projeção dos anos de 2023 e 2024, com as competições especificadas. Em outubro, um espaço em branco. Um vazio que permanecerá para sempre em todos os integrantes do “Remar para o Futuro”.
A iniciativa fazia a formação de talentos do remo, na modalidade olímpica, e virou referência ao revelar cerca de 60% dos atletas de base que participaram das seleções brasileiras nos últimos anos. O projeto era realizado pela Prefeitura de Pelotas e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
Sete medalhas na última competição
Os remadores do projeto participaram no fim de semana do Campeonato Brasileiro Unificado, disputado na raia olímpica da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista, onde obtiveram expressivo resultado.
Foram conquistadas sete medalhas e o sexto lugar geral na disputa organizada pela Confederação Brasileira de Remo (CBR).
No four skiff masculino, o projeto obteve ouro, no sábado (19), com Samuel Benites, Henri Fontoura, João Kerchiner e João Milgarejo. Foi a primeira vez que os remadores do projeto venceram nessa categoria.
No four skiff feminino, o ouro foi conquistado no domingo (20). A remadora Helen Belony Centeno triunfou ao lado de Evelen Cardoso, do Grêmio Náutico União (GNU), e de Vitória Brandão e Isabela Silveira, ambas do Botafogo.
Além desses ouros, foram conquistadas três medalhas de prata e outras duas de bronze.