O trágico acidente ocorrido na noite de domingo (20) entre uma van e uma carreta, no Paraná, provocou a morte do coordenador de um projeto social e de sete adolescentes — com idades entre 15 e 20 anos — fortemente unidos por uma paixão em comum: a prática esportiva. A colisão também vitimou o motorista da van em que estava o grupo gaúcho.
Um dos idealizadores e coordenador técnico do Remar para o Futuro, de Pelotas, Oguener Tissot, 43 anos, era um dos principais entusiastas do remo no sul do país — entusiasmo que, desde 2015, se dedicava a disseminar entre alunos de escolas públicas pelotenses. A devoção à atividade criara uma relação de muita amizade e companheirismo entre o treinador e os participantes do programa.
O esporte fazia parte da vida de Tissot desde a infância. Nascido em Pelotas, o treinador se criou no bairro do Porto, próximo ao Canal de São Gonçalo. Além de jogar futebol e bolinha de gude pelas ruas, costumava passear com os amigos pelas proximidades. Em uma dessas caminhadas, chegou ao porto do município e deparou com a imagem de barcos a remo deslizando pela água. A imagem lhe provocou uma profunda impressão.
— Foi paixão à primeira vista. Fui criado na rua, brincando com os amigos, jogando bola, andando de carrinho de rolimã. Às vezes, a gente saía para dar umas caminhadas e passava pela região do porto. Chegando nas doquinhas, me lembro que a primeira vista que eu tive foi dos barcos passando. Fiquei vidrado. Quando entrei em uma garagem de barcos, foi amor à primeira vista — contou em uma recente entrevista concedida ao podcast DDD 53.
Como contava apenas com nove anos e era preciso ter ao menos 12 para começar a treinar, manteve-se por três anos fiel ao sonho de manejar os remos mesmo sem poder colocá-lo em prática.
— Quando completei (a idade necessária) em outubro de 1994, em dezembro, assim que terminaram as aulas, eu já estava lá (para treinar) — complementou Tissot.
Filho de um empresário e de uma artesã, segundo mais velho entre quatro irmãos, o atleta se transformaria em treinador para transmitir às novas gerações o amor pelo remo. Foi com essa intenção que participou da criação do Remar para o Futuro por meio de uma parceria da Academia de Remo Tissot com a prefeitura de Pelotas, a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e o Clube Centro Português 1º de Dezembro. Oguener deixa um filho de seis anos.
— O Oguener era um grande amigo. Foi um amante do esporte a vida toda, e a principal cabeça dessa modalidade na Região Sul. Era um batalhador, conseguiu levar atletas para a seleção brasileira. O sonho dele era desenvolver o remo — conta o servidor da Secretaria Municipal de Esportes de Pelotas Huibner Silva.
Para cumprir essa missão, buscava disseminar o mesmo amor pelo esporte em escolas públicas do município — de onde vinham os adolescentes que, a cada ano, renovavam o projeto e obtinham resultados de destaque em competições nacionais como o Campeonato Brasileiro de Remo recém-realizado em São Paulo (o grupo conquistou sete medalhas em diferentes modalidades). Os nomes das vítimas foram divulgados pela prefeitura de Pelotas no final da manhã.