É muito difícil escrever sobre a morte. Ainda mais quando ela envolve jovens. Mas a notícia que abalou e enlutou o Rio Grande do Sul nesta segunda-feira (21) é sobre o falecimento de sete atletas de uma equipe de remo, com idades entre 15 e 20 anos, além do treinador e do motorista da van, que se deslocavam de São Paulo para Pelotas.
Foram nove vidas encerradas. Todos integravam o Projeto Remar para o Futuro, parceria da prefeitura de Pelotas, com a Academia de Remo Tissot e o Centro Português, ambos da cidade da zona do sul do Estado, e que desde 2015 tem revelado diversos nomes para o esporte brasileiro.
Futuro. Como não associar um futuro promissor aos jovens vencedores. E não só pelas medalhas conquistadas no Campeonato Brasileiro de Remo, de onde eles regressavam. A vitória vai além das medalhas e dos pódios. E aqui quero recordar o que me disse Piedro Tuchtenhagen, cria do Remar para o Futuro, durante os jogos Pan-Americanos de Santiago, em outubro de 2023.
— O projeto Remar para o Futuro foi um divisor de águas. Surgiu em um momento delicado da minha vida. E graças a esse belíssimo projeto, eu e outros jovens pudemos ter grandes vivências no esporte, conhecer lugares, competições incríveis, enfim. Eu tenho um orgulho muito grande do projeto. Todos os anos têm atletas em campeonato mundial e campeonatos sul-americanos, com conquistas nacionais muito expressivas. Lá é minha família. Eu me criei lá dentro. Eu pedi minha noiva em casamento lá, junto com a minha família do remo.
Foi no Remar para o Futuro que Piedro começou a construir o seu futuro. E assim como ele, outras dezenas ou centenas de jovens que já passaram pelo programa, que tem coordenação geral do professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Fabrício Boscolo e, que tinha como treinador e coordenador técnico Oguener Tissot, 43, uma das vítimas fatais.
Eles construíram o seu futuro, seja ele no remo ou em outra atividade. Porque o esporte não deve formar apenas atletas, ele deve formar cidadãos. E por todos os relatos de quem conhece o projeto, é isso que ocorre em Pelotas.
Que o professor Boscolo tenha forças para seguir essa caminhada. Que o João Milgarejo, único sobrevivente, consiga voltar a remar por ele e pelos amigos que tiveram seus futuros abreviados na BR-376, em Guaratuba-PR.
Que as famílias consigam passar por essa tragédia. Porque tragédia é isso, não uma derrota em uma competição. Que o Remar para o Futuro siga transformando vidas e promovendo inclusão.
E que esse acidente não seja esquecido. Que tenhamos estradas melhores, veículos fiscalizados para trafegarem em boas condições, para não perderem o freio, como ocorreu com a carreta que atingiu a van que levava as vítimas.
Porque ele deixa de luto nove famílias, uma comunidade, um estado. Acima de tudo, carrega sonhos que não serão realizados e deixa uma marca que jamais sairá de nossos corações.
Que possamos remar para o futuro sem esquecer do Samuel, do Henri, da Helen, da Nicole, da Angel, do João Kerchiner, do Vítor, do professor Oguener e do motorista Ricardo.