As fissuras causadas pela crise econômica na Rússia terão impacto também sobre o resto do mundo, inclusive o Brasil. Grandes produtores de trigo, os russos vão segurar as exportações do cereal para tentar controlar a inflação dentro de casa.
- Quando se restringe a oferta, há efeito dominó no preço - pontua o consultor Carlos Cogo.
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Infelizmente, essa valorização, que já está ocorrendo não beneficiará o produtor gaúcho, que teve uma safra frustrada. Além do volume reduzido à metade, a qualidade ruim deixou o cereal do Rio Grande do Sul em desvantagem no mercado.
Pelo contrário, a alta do cereal irá favorecer mercados onde o Brasil, que não é autossuficiente na produção, busca seu trigo "extra", como Argentina e Estados Unidos. Ou seja, essa conta poderá acabar na mesa do consumidor.
Há ainda um outro problema. Depois do embargo declarado à União Europeia e aos Estados Unidos por conta da crise com a Ucrânia, os russos escancararam as portas aos produtos brasileiros.
E ajudaram a engordar os rendimentos da indústria brasileira. De janeiro a novembro, foram o segundo maior comprador de carne bovina, com R$ 1,28 bilhão e 304,88 mil toneladas.
Entre os importadores de carne suína brasileira, a Rússia liderou o ranking, com participação de 37,9% e receita de US$ 766,03 milhões de janeiro a novembro, 101,5% maior do que em 2013.
Cogo estima que os russos devam, no entanto, reduzir as compras de carne suína:
- Na carne bovina, não acho que haverá impacto, porque a oferta está muito ajustada.
Acuados pela crise, os russos podem, em tese, se render aos seus antigos fornecedores. Diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Estado, Rogério Kerber não prevê que os produtos brasileiros sejam descartados:
- A Rússia não é autossuficiente. O Brasil tem uma condição diferenciada.