Primeiro Grand Slam da temporada, o Australian Open terá início neste sábado (11), e o Brasil estará muito bem representado. Apesar de todo o entusiasmo, é preciso ter calma.
O que esperar do desempenho de nossos tenistas? Esta é uma pergunta que todos fazem. A expectativa está depositada em João Fonseca, o jovem prodígio de 18 anos que vem de dois títulos, um sub-20 e outro em um Challenger, seguidos de três vitórias no qualificatório do torneio em Melbourne.
Mas é necessário calma com o tenista carioca, que vem ganhando elogios de Federer, Nadal, Djokovic, Roddick e tantos outros. João tem potencial para ser top 10, sem dúvida. Hoje, mostra jogo e maturidade para tranquilamente figurar entre os 50 primeiros do mundo, mesmo que seja o 113º na classificação, onde aliás não para de melhorar.
O primeiro fator a ser considerado é que ele jamais disputou um Grand Slam profissional, mesmo que tenha sido campeão júnior do US Open de 2023. Outro detalhe, além da experiência nessas competições, é o fato de que ele não está acostumado a disputar jogos de cinco sets. Sem falar que quanto mais vence, mais atenção chama e mais pressão por resultados recebe.
Guga foi surpreendentemente campeão de Roland Garros aos 20 anos e nove meses, quando era o 66º do mundo e já tendo jogado o Aberto da França do ano anterior. E não havia expectativa alguma que ele atingisse tal resultado.
Repito o que já escrevi por aqui. João Fonseca não é um novo Guga Kuerten. Aliás, dias depois, ao vencer o Next Gen ele mesmo falou: "Quero só ser o João e fazer a minha carreira".
Portanto, se ele não passar da estreia contra o russo Andrey Rublev, nono melhor do mundo e com 10 presenças em quartas de final de Grand Slam, não será o final do mundo. Seguirá sendo apenas o início de sua carreira, a carreia do João.
Mas entrando em quadra e vendo seu potencial, é possível pensar em uma zebra e vaga na segunda rodada, quando ele poderá encarar o quase quarentão suíço Stan Wawrinka, campeão do Australian Open de 2014, quando João tinha pouco mais de sete anos, ou o italiano Lorenzo Sonego. E com o atual ritmo e potencial, Fonseca pode seguir adiante.
A terceira rodada seria dos sonhos para o tênis brasileiro se o adversário fosse o paranaense Thiago Wild, atual número 1 do Brasil e 76º na lista da ATP, e que a exemplo de João foi campeão juvenil do US Open de 2018. Mas até lá, Wild terá que vencer o húngaro Fabián Maroszán, seu rival de estreia, e depois o americano Frances Tiafoe, atual 17º do ranking, que é favorito diante francês Arthur Rinderknech.
Se tudo conspirar a favor, um brasileiro estaria nas oitavas de final, o que vislumbro ser o máximo possível nesta edição. Ainda temos Thiago Monteiro, que vai ter um jogo duro e longo contra o japonês Kei Nishikori, que aos 35 anos e muitas lesões acumuladas já não é o mesmo que esteve entre os cinco primeiros do mundo. Mas o cearense dificilmente deve passar da segunda rodada, quando poderá cruzar com o americano Tommy Paul, semifinalista em Melbourne dois anos atrás.
Bia Haddad Maia sem pressão
Com as atenções voltadas para João Fonseca, Bia Haddad Maia pode ter um pouco mais de tranquilidade para jogar. Afinal é assim que funciona no esporte brasileiro, infelizmente. Não se acompanha outros esportes com profundidade. Mas quando alguém apresenta potencial é pressionado a vencer sempre.
Bia já esteve em duas oportunidades entre as 10 melhores do ranking feminino e foi semifinalista de Roland Garros e quadrifinalista do US Open. Feitos até então inimagináveis para uma tenista brasileira. Mesmo assim, as cobranças seguem intensas e por vezes sua capacidade é colocada em dúvida.
O que vejo de Bia em Melbourne é um caminho aberto até as oitavas. Ela é favorita contra a rival de estreia, a argentina Julia Riera e deve ser também contra a adversária da segunda rodada, que sairá do duelo entre a chinesa Zheng Saisai e a russa Erika Andreeva. Na terceira fase o nível deve subir e ela enfrentará uma jogadora mais experimentada. A russa Veronika Kudermetova e a britânica Katie Boulter são as potenciais rivais.
Nas oitavas, Bia teria um duelo dificílimo contra a italiana Jasmine Paolini, a grande surpresa da última temporada e que entraria em quadra como favorita.
O Australian Open é um torneio que exige fôlego dos jogadores e dos torcedores. Quem estiver em Melbourne vai encarar altas temperaturas no escaldante verão australiano. Por aqui, a maratona irá iniciar durante as noites, passando pelas madrugadas e encerrando nas manhãs. Vamos ficar na torcida para que as oitavas de final não seja o limite dos brasileiros, ao menos nos torneios individuais.