A preocupação com o tempo seco que persiste em áreas do Estado está ancorada, mais do que em números, no passado recente. Desde que começou a falar sobre esse assunto, a coluna vem recebendo relatos de agricultores das regiões em que a falta de chuva já produz efeitos — com perdas — em relação à expectativa inicial. Até este momento, embora significativos para quem acumula, os danos são pontuais e é muito cedo para falar em comprometimento geral da safra gaúcha.
O temor de uma reprise que ninguém quer ver vem justamente dos efeitos ainda sentidos das duas últimas estiagens — sobretudo no bolso e no ânimo do produtor. E da previsão do tempo, que no curto prazo não aponta a chuva esperada em pontos onde as lavouras estão "pedindo água".
— O que preocupa é que viemos de duas safras de seca, aí pegamos chuvarada e, agora, estamos falando em seca de novo. Isso "derruba" bastante o pessoal, que está descapitalizado, com a margem apertada e, em muitos casos, até negativa — observa Igor Perlin, produtor rural de Santo Ângelo, nas Missões.
Também engenheiro agrônomo, ele presta assessoria a outros agricultores e tem ouvido relatos de redução de até 50% sobre a expectativa inicial em áreas de soja. Importante frisar que são variedades plantadas mais cedo e de ciclo precoce; para a maioria das plantações do principal grão da estação, o período decisivo é mais à frente, em fevereiro.
Há locais que acumulam um mês de ausência de chuva ou de baixo volume, insuficiente para dar conta da demanda hídrica.
— Como as duas últimas semanas foram de temperaturas elevadas e vento, que aceleram o ressecamento de solo, o processo de perda da umidade foi todo acelerado — acrescentou Joney Braun, supervisor microrregional do escritório regional de Santa Rosa da Emater.
Há perdas registradas no milho, concentradas, por enquanto, nas Missões, e já em plantações de soja de ciclo precoce. Outra preocupação são áreas de campo nativo, destinadas à alimentação do gado.
— Aqui nessa propriedade, faz 30 dias que não chove — relata, em vídeo publicado nas redes sociais, Luís Fernando Pires, gravado em Bossoroca, também nas Missões.