O último dos três grupos de cientistas da expedição Criosfera 2022, liderada por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), chegou ao Brasil neste sábado (14), encerrando as atividades na Antártica depois de mais de 30 dias no continente gelado.
Coordenada pelo vice-pró-reitor de Pesquisa da UFRGS, Jefferson Cardia Simões, a missão investigou as consequências das mudanças climáticas para a Antártica e para a América do Sul. Esta foi considerada a maior expedição brasileira feita no interior do continente.
O trabalho utilizou tratores polares e aviões com esquis para locomoção em uma área equivalente à região sul do Brasil. Além de professores da UFRGS, o estudo conta com pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e faz parte do Proantar, coordenado pela Secretaria Interministerial para os Recursos do Mar (Secirm).
Acampados e enfrentando temperaturas de até -24°C, os cientistas coletaram neve e gelo precipitados ao longo dos últimos 400 anos e fizeram medições sobre a resposta das geleiras às mudanças do clima.
Uma das principais atividades realizadas pelo grupo, que se dividiu em três equipes em pontos distintos do interior da Antártica, foi a instalação do módulo Criosfera 2, um laboratório automatizado para coleta de dados ambientais. Segundo Simões, o módulo está localizado em cima de uma calota de gelo - Skytrain Ice Rise (de 600 metros de espessura), ao sul do mar de Weddell, com vista para a montanha mais alta da Antártica (maciço Vinson, 4.897 metros de altitude).
De acordo com o líder da expedição, a temperatura no Criosfera 2 durante o inverno deverá cair a -40°C. É a partir dessa região que as massas de ar frio provenientes do platô polar abastecem o mar de Weddell (no oceano Austral) no inverno e são responsáveis pela intensificação de eventos extremos e ondas de frio no Sul do Brasil.
O Criosfera 2 liga-se a uma rede de dados ambientais entre a Amazônia e a Antártica, importante para investigar as origens e intensificação de eventos extremos, como tempestades severas, estiagens, ondas de calor e frio, no atual cenário de mudanças climáticas.
O que ocorre a partir de agora?
Conforme Simões, os primeiros relatórios da pesquisa deverão ser divulgados em congressos científicos em 2024. As amostras irão da Antártica para o Chile, depois para Boston, e de lá vão para a Universidade do Maine, para onde, em março deste ano, dois pós-doutores e um doutorando irão para trabalhar nas câmaras frias (a -20°C). Eles devem cortar e subamostrar os 98 metros de testemunhos de gelo (que devem representar 400 anos de dados ambientais). Serão meses de trabalho.
A partir daí, se inicia uma série de análises químicas das amostras, que serão subdivididas em blocos de três centímetros de espessura. No total, serão cerca de 3.250 unidades. A água passará por inúmeras avaliações para determinar a composição química e a sua variação, ao longo do tempo.
— Com isso, poderemos dizer se o clima era mais quente ou mais frio, mais úmido ou seco, se tinha mais poeira ou não na atmosfera, detectar o impacto das grandes erupções vulcânicas nela, e também se poluentes produzidos pela atividade humana estão chegando à Antártica — explica Simões.