Começa neste domingo (31) a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP26), que será realizada em Glasgow, na Escócia. O encontro reunirá líderes de 197 países que discutirão até 12 de novembro estratégias para reduzir as emissões de gases de efeito estufa até o fim desta década e para enfrentar os impactos climáticos no mundo.
A COP é um acordo internacional assinado por praticamente todos os países, cujo objetivo é reduzir o impacto da atividade humana no clima. A conferência deste ano é considerada a mais importante desde a COP21, em 2015, quando 191 lideranças assinaram o Acordo de Paris, se comprometendo a apresentarem na COP26 estratégias para diminuir as emissões, ajudando a limitar em até 1,5°C o aumento da temperatura global. Em Paris, todos os signatários concordaram em reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa, ampliar a produção de energia renovável, destinar bilhões de dólares para ajudar países pobres a lidar com o impacto da mudança climática e reunirem-se a cada cinco anos para uma análise das ações realizadas. A primeira reunião ocorreria no ano passado, mas teve a data transferida por conta da pandemia de coronavírus.
Na conferência deste ano, o Brasil será representado pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite. O presidente Jair Bolsonaro, que está na Itália para participar da Cúpula de Líderes do G-20, não irá à COP26. Nesta sexta-feira (29), o vice-presidente Hamilton Mourão justificou a ausência:
— O presidente Bolsonaro sofre uma série de críticas, então ele vai chegar em um lugar que todo mundo vai jogar pedra nele. Está uma equipe robusta lá, com capacidade de levar adiante a estratégia de negociação. Todo mundo tem que mudar para a gente atingir os objetivos — disse Mourão à imprensa.
O governo brasileiro se comprometeu a reduzir em 43% as emissões de gases de efeito estufa até 2030. Porém, segundo relatório do Observatório do Clima, divulgado na quinta-feira (28), a emissão brasileira de gases de efeito estufa cresceu 9,5% em 2020, enquanto no mundo houve queda de quase 7%. De acordo com o estudo, é o maior montante de emissões desde 2006 e teria como responsáveis as queimadas e o desmatamento na Amazônia.
Documento emitido pelos organizadores da COP26, liderado pelo Reino Unido, que é o anfitrião da cúpula, apresenta os motivos pelos quais os países devem trabalhar em conjunto para que a temperatura média global aumente apenas 1,5°C: haveria menor escassez de alimentos e água, menos espécies correriam risco de extinção, seriam menores as ameaças à saúde humana decorrentes da poluição do ar, doenças, desnutrição e exposição ao calor extremo e o crescimento econômico teria impacto reduzido. Porém, se o planeta alcançar 2°C a mais na temperatura, os impactos podem ser severos e generalizados sobre a natureza e os seres humanos. Um terço da população mundial seria regularmente exposta ao calor severo, causando problemas de saúde e mais mortes relacionadas às altas temperaturas. Recifes de corais de água quente seriam destruídos e o gelo do mar Ártico derreteria inteiramente pelo menos um verão por década, com impactos sobre a vida selvagem e as comunidades. Também não se descarta a perda irreversível de gelo na Groenlândia e na Antártica, causando a elevação do nível do mar ao longo dos anos.
Ações até agora não são suficientes
Nesta semana, durante Assembleia Geral das Nações Unidas, o secretário-geral da ONU, António Guterres, destacou que até agora as ações implementadas pelos países não serão suficientes para frear o aquecimento e alcançar a meta definida pelo Acordo de Paris. Ele ainda reforçou que a humanidade está em alerta máximo com as consequências das mudanças climáticas, como catástrofes causadas pela subida da temperatura, perda da biodiversidade e aumento de mortes por poluição.
Na quinta-feira passada (28), um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) revelou que quase metade das economias do G-20 não aderiram aos princípios do Acordo de Paris, nem avançaram em ações relacionadas às questões climáticas. Enquanto isso, 93% das pequenas ilhas em desenvolvimento e das nações menos desenvolvidas apresentaram compromissos. O Pnud destacou que as 20 maiores economias do mundo são responsáveis por mais de três quartos das emissões do efeito estufa e, por isso, cabe a elas intensificarem o combate à crise climática.
Em agosto deste ano, o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, preocupou as nações ao mostrar que o aquecimento global está se desenvolvendo mais rápido devido às atividades humanas. Por consequência, serão cada vez mais comuns eventos climáticos extremos e sem precedentes. Para o Rio Grande do Sul e a região Sul do continente, por exemplo, o estudo do IPCC prevê aumento da temperatura e da chuva em intensidade e frequência, causando inundações, se a média global superar 2°C.
Uma análise do World Resources Institute (WRI) e do Climate Analytics apontou que até o final deste século a temperatura média global pode ter aumento de até 2,4°C se permanecerem os atuais compromissos climáticos, aliados às metas obrigatórias de zerar emissões líquidas. A temperatura ficaria limitada a um aumento de 2,1°C, se consideradas as metas adicionais anunciadas pelos países do G-20, ainda não adotadas formalmente. O estudo também apontou uma alternativa para limitar em 1,7°C o aquecimento global — próximo da meta de até 1,5°C: todas as nações do G-20 precisariam definir metas ousadas de redução de emissões para 2030 — entre elas, reduções rigorosas nas emissões da aviação internacional e do transporte marítimo e atingirem emissões líquidas zero até 2050.
Metas da COP26
1. Mitigação
Reduzir as emissões até 2030, alinhadas a zerar as emissões líquidas até a metade do século com as seguintes ações:
- Acelerar a eliminação do carvão
- Reduzir o desmatamento
- Acelerar a mudança para veículos elétricos
- Incentivar o investimento em energias renováveis
2. Adaptação
Adaptar-se para proteger comunidades e habitats naturais:
- Proteger e restaurar ecossistemas
- Construir defesas, sistemas de alerta e infraestrutura resiliente e agricultura para evitar a perda de casas, meios de subsistência e até mesmo vidas
3. Mobilizar finanças
- Para cumprir as duas primeiras metas, os países desenvolvidos devem mobilizar pelo menos US$ 100 bilhões em financiamento climático por ano
- As instituições financeiras internacionais devem fazer sua parte, trabalhando para liberar os trilhões de financiamento dos setores público e privado necessários para garantir a rede zero global
4. Colaboração
Trabalhar junto para:
- Finalizar as regras detalhadas que tornam o Acordo de Paris operacional
- Acelerar as ações para enfrentar a crise climática por meio da colaboração entre governos, empresas e a sociedade civil
Fonte: UN Climate Change Conference - UK 2021