Conforme o primeiro relatório de avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) feito nos últimos sete anos, em 2030 a temperatura da Terra poderá estar 1,5°C acima de antes da Revolução Industrial.
Caso se confirme esse cenário, o mais pessimista dos cinco traçados, pode haver "desastres sem precedentes", diante dos quais as inundações na Europa e as chamas na Grécia e na Califórnia vistas neste ano serão episódios menores. Para a economia, a consequência é imediata: sobe a pressão pela descarbonização, ou seja, pela redução da emissão de gás carbônico na atmosfera.
Christiana Figueres, ex-secretária da Convenção da ONU para a Mudança Climática e fundadora da ONG Global Optimism, reforçou a mensagem:
— É mais um lembrete de que precisamos acelerar os esforços globais para abandonar os combustíveis fósseis e mudar para um modelo de crescimento mais limpo e mais verde. Temos um plano, é chamado de Acordo de Paris. Tudo o que precisamos para evitar os impactos exponenciais da mudança climática é possível de ser feito. Mas depende de soluções que se movam exponencialmente mais rápido do que os impactos, e que se consiga reduzir pela metade as emissões globais até 2030. A COP26 será o momento da verdade.
Para os que ainda hesitam, a embaixadora da associação dos países que ficam em pequenas ilhas — algumas podem desaparecer se o nível dos oceanos subir com o derretimento das geleiras —, Diann Black-Layne, de Antigua e Barbados, mandou um recado:
— Grandes emissores devem levar em conta os danos infligidos, sabendo que cada tonelada de carbono e cada dólar gasto em combustíveis fósseis terá um impacto negativo.
No Brasil, depois de certa demora, muitas empresas estão assumindo compromissos de reduzir emissões até 2030. As maiores se movem sob pressão, como Gerdau e Braskem, mas também com perspectivas de ganhos com práticas que já são sustentáveis, como uso de sucata, no caso da siderúrgica, e no emprego de matéria-prima vegetal, no da segunda. Maurício Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil, avalia que as consequências da emergência climática já afetam o país, com o custo mais alto da eletricidade provocado pela mudança no regime de chuvas:
— No Brasil, onde grande parte da energia já está limpa, o desafio é eliminar o desmatamento, principal razão pela qual o país é o sexto maior emissor de gases de efeito estufa. A melhor ciência do planeta está nos mostrando que o presidente Jair Bolsonaro escolheu o caminho da catástrofe e é isso que não podemos aceitar: os interesses eleitorais e setoriais não podem prevalecer sobre o bem comum da nação.