As concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera atingiram um novo recorde no ano passado, disse nesta segunda-feira (25) a Organização Meteorológica Mundial (OMM), dias antes da conferência climática COP26. Segundo o boletim, a taxa de aumento anual registrada foi "superior à média do período 2011-2020".
Em seu relatório, a agência da ONU indica que já se evidencia "a transição de uma parte da Amazônia de sumidouro a fonte de carbono".
– É alarmante e está vinculado ao desmatamento na região – afirmou o secretário-geral da OMM, professor Petteri Taalas, em entrevista coletiva.
De acordo com a OMM, a desaceleração econômica causada pela covid-19 "não teve qualquer efeito evidente sobre os níveis atmosféricos dos gases de efeito estufa, nem em suas taxas de aumento, embora tenha ocorrido uma redução temporária das novas emissões".
A agência informou que as emissões não param e que "a temperatura mundial continuará subindo".
Como o dióxido de carbono (CO2) é um gás de vida longa, "o nível de temperatura observado hoje persistirá por várias décadas, ainda que as emissões sejam rapidamente reduzidas até alcançar o nível de zero líquido", acrescentou.
A conferência da ONU sobre mudança climática COP26 começa no próximo domingo, 31 de outubro, em Glasgow, e vai até 12 de novembro.
— O Boletim da OMM sobre os gases de efeito estufa envia uma mensagem científica contundente aos negociadores em matéria de mudança climática — diz o secretário-geral da agência, citado no comunicado.
— Caso o ritmo atual de aumento das concentrações de gases de efeito estufa se mantenha, o aumento da temperatura no final deste século vai superar, de longe, a meta estabelecida em virtude do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a +1,5°C, ou a +2°C acima dos níveis pré-industriais — acrescentou.
— Se continuarmos usando os recursos fósseis de maneira ilimitada, poderemos alcançar um aquecimento de em torno de 4°C até o final do século — alerta o professor Taalas.
Concentração similar há milhões de anos
A concentração de dióxido de carbono (CO2), o mais abundante dos gases de efeito estufa, atingiu 413,2 partes por milhão (ppm), em 2020, e está em 149% dos níveis pré-industriais.
O boletim especifica que cerca de metade do CO2 emitido pelas atividades humanas permanece na atmosfera, enquanto a outra metade é absorvida pelos oceanos e ecossistemas terrestres.
— A última vez que se registrou na Terra uma concentração de CO2 comparável foi entre três e cinco milhões de anos atrás. Nesta época, a temperatura era de 2°C a 3°C mais quente, e o nível do mar, entre 10 e 20 metros acima do atual, mas não havia 7,8 bilhões de pessoas no planeta — explicou Taalas.
No caso do metano (CH4) e do óxido nitroso (N2O), suas concentrações foram equivalentes a 262% e 123%, respectivamente, dos níveis de 1750, ano escolhido para representar o momento em que a atividade humana passou a alterar o equilíbrio natural da Terra.
Cerca de 40% do metano é emitido por fontes naturais (como os pântanos), enquanto os demais 60% têm origem em atividades humanas, como pecuária e cultivo de arroz, por exemplo.
— Devemos transformar nossos sistemas industriais, energéticos e de transporte e todo nosso estilo de vida. As mudanças necessárias são acessíveis do ponto de vista econômico, e viáveis, do ponto de vista técnico. Não há tempo a perder — advertiu Taalas.