A corregedoria da Polícia Rodoviária Federal (PRF) decidiu aprofundar a investigação contra três agentes que atenderam o acidente que resultou na morte da adolescente Bárbara Andrielli Mendes de Moraes, 15 anos, na freeway, em 3 de março. Com isso, o que, até agora, era apenas uma sindicância interna se tornou um processo administrativo disciplinar - que pode resultar, inclusive, na demissão dos policiais.
De acordo com o corregedor da PRF no Rio Grande do Sul, Leandro Wacholtz, a sindicância apontou para "possível erro de conduta" de todos policiais que estiveram no local do acidente e o responsável pela equipe, que estava em uma base da PRF. Eles não foram afastados das funções.
— A gente cumpriu o protocolo de fazer a sindicância prévia para ver os elementos que tínhamos. Ficaram alguns indícios de que tenha havido erro de conduta. Havendo esse indício, e dada a repercussão que foi dada, a gente abriu o procedimento disciplinar. São fatos que ficaram obscuros e necessitam explicação — detalha.
Três policiais rodoviários de conduta isenta foram escolhidos para julgar as alegações dos policiais rodoviários e as provas colhidas na sindicância. O prazo da apuração é de 60 dias. Após esse período, o trio emitirá seu parecer. O documento será avaliado, e o corregedor e superintendente da PRF definirão o futuro dos policiais envolvidos.
Wacholtz prefere não entrar em detalhes sobre o que o órgão apurou até o momento envolvendo os policiais e nem os seus nomes.
À época do acidente, GaúchaZH confirmou que não foi feito o teste do bafômetro no médico, nem no local do acidente e nem no hospital de Santo Antônio da Patrulha, onde ele foi levado para atendimento após apresentar um surto de asma. Em depoimento, após serem investigados, os policiais declararam que ele recusou o teste. A informação, no entanto, não consta no boletim de ocorrência, registrado na Polícia Civil 85 horas após o acidente.
Indiciamento
A Polícia Civil investigou a colisão com morte e indiciou o médico Leandro Toledo de Oliveira, 37 anos, por homicídio culposo — com qualificadora de dirigir sob efeito de álcool ou outras drogas — e também por tripla lesão corporal.
Embora não tenha sido submetido ao teste do bafômetro, a polícia entendeu que havia elementos suficientes para provar a embriaguez de Oliveira através do relato de testemunhas. O delegado afirmou que o médico voltava de uma festa, dirigindo sua BMW X5.
Um dos policiais rodoviários que atendeu a ocorrência foi indiciado por prevaricação, quando um funcionário público deixa de realizar sua função.
O MP ainda não se manifestou sobre a denúncia.
O acidente
A colisão que matou Bárbara ocorreu na madrugada de 3 de março, domingo de Carnaval. Ela e um amigo da família viajavam em uma motocicleta, e o pai e a mãe dela em outra.
As duas motos foram atingidas por trás pela BMW do médico, os lançando longe com a força da batida. A menina não resistiu aos ferimentos, e seus pais e o amigo foram hospitalizados e já receberam alta. O médico, que estava com a CNH suspensa por ter sido flagrado dirigindo bêbado, foi liberado após ir para um hospital.
O caso não havia sido comunicado à imprensa e à Polícia Civil pela PRF, até que GaúchaZH procurou os órgãos competentes. A ocorrência foi registrada enquanto a reportagem buscava informações sobre o acidente.
Após a batida, o delegado Valdernei Tonete disse à reportagem que investigaria "na medida do possível" e que não era prioridade em seu distrito policial. Após a manifestação, a chefe da Polícia Civil, Nadine Anflor, ordenou que o caso fosse solucionado o mais rápido possível. O órgão também disponibilizou agentes e equipamento para a delegacia.