O médico indiciado pelo acidente na freeway que causou a morte da adolescente Bárbara Andrielli Mendes de Moraes, 15 anos, no domingo de Carnaval, esteve em uma festa na casa de uma amiga, em Tramandaí, e dirigia embriagado no momento da colisão. A conclusão está no inquérito, entregue nesta semana pela Polícia Civil, ao qual GaúchaZH teve acesso.
O próprio médico Leandro Toledo de Oliveira, 37 anos, disse durante interrogatório que esteve em um "encontro com amigos" e que havia bebidas alcoólicas no local. No entanto, alega que não ingeriu nada de álcool antes de pegar o volante em direção a Porto Alegre. Oliveira ainda afirmou aos policiais que iria trabalhar no outro dia e se deslocou na madrugada para evitar o trânsito da rodovia durante o dia.
No entanto, a partir do relato de quatro testemunhas ouvidas na investigação, o delegado Valdernei Tonete concluiu que o médico estava embriagado e o indiciou por homicídio culposo de trânsito, com o agravante de dirigir sob efeito do álcool, e tripla lesão corporal. Tonete acredita ainda que o médico estava acima da velocidade permitida.
"O imprudente e irresponsável motorista não poderia estar trafegando nos limites permitidos pela estrada, que é de 110 quilômetros por hora, o que daria tempo para frear ou desviar das motocicletas que seguiam adiante, não fosse por estar com sua capacidade psicomotora alterada pela ingestão de bebida alcoólica e em alta velocidade", concluiu o delegado no relatório do inquérito.
A BMW conduzida por Oliveira atingiu por trás as duas motocicletas onde estavam Bárbara, o pai e a mãe dela e um amigo da família. O inquérito ainda aponta que a moto em que estava a adolescente foi arrastada por 74 metros sem nenhum sinal de frenagem. O três feridos no acidente estão se recuperando em casa e impossibilitados de trabalhar.
À polícia, o médico também afirmou que não havia sido notificado sobre a suspensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), após ter sido autuado por se negar a realizar o bafômetro em outra ocasião, na BR-448, em Canoas. Para a Polícia Civil, ele quis se favorecer da falta de fiscalização.
"Ninguém compra um BMW para deixar mofando na garagem. Como não existe uma rigorosa fiscalização e a sanção para quem for pego dirigindo com seu direito suspenso é pífia, saiu com destino à Capital do Estado", escreveu o delegado.
Procurado na data do indiciamento, o advogado que defende o médico, Guilherme Volante, disse que só iria se manifestar após ter acesso aos autos. Nesta sexta, GaúchaZH entrou em contato novamente e ainda aguarda posicionamento.
PRF não registrou negativa de bafômetro
O policial rodoviário federal Leandro André Nyland, que atendeu a ocorrência – e que foi indiciado por prevaricação –, não registrou as duas tentativas negadas para realização do teste do bafômetro. Conforme a investigação, o motorista alegou sofrer de crise asmática para não soprar o bafômetro – a mesma justificativa dada em 2015,quando foi autuado na BR-448.
O médico plantonista que realizou o atendimento no Hospital de Santo Antônio da Patrulha, logo após o acidente, disse em depoimento que Oliveira não reclamou de problemas respiratórios ou de falta de ar.
Para a Polícia Civil, mesmo com a alegação de falta de ar, o agente ainda poderia ter realizado um exame clínico ou de sangue, o que não foi realizado. O delegado acredita que o policial se tornou "mais maleável" ao descobrir que o motorista da BMW era um médico.
Chamou atenção dos investigadores que, apesar da negativa, a informação não foi registrada na ocorrência, nem gerou multa de trânsito.
O agente é defendido por uma advogada do Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais. Nesta manhã, GaúchaZH tentou contato por meio do sindicato e também pelo celular, mas não recebeu retorno. A Polícia Rodoviária Federal informou que abriu um procedimento que deve ser concluído na próxima semana.