Deflagrada na manhã desta segunda-feira (16), na Região Metropolitana, a Operação Soldado Americano mirou um empresário investigado por estelionato, agiotagem e sonegação. A Polícia Civil cumpriu 10 mandados de busca e apreensão e sequestrou judicialmente sete imóveis e 22 veículos, entre os quais há uma Porsche, uma Ferrari, uma Mercedes Benz e uma Lamborghini.
Segundo a Polícia Civil, Lucio Fernandes Winck, de 52 anos, teria criado pelo menos 30 empresas em nome de laranjas para operar um esquema de fraudes financeiras e sonegação fiscal. Procurado pela reportagem, o empresário negou todas as acusações e disse que todos os seus bens estão regularizados.
Cerca de 60 policiais participaram da operação realizada nesta segunda-feira. Dois dos imóveis alvo estão em Gravataí e Canoas. Nem todos os carros sequestrados foram apreendidos, mas os que foram recolhidos, como a Porsche e Mercedes foram levados para o depósito do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
O delegado Filipe Bringhenti, titular da Delegacia de Repressão à Lavagem de Dinheiro do Deic, que coordenou a ofensiva, diz que o investigado faturava aplicando golpes em financeiras, contraindo empréstimos em nome de laranjas, que não eram pagos. Na sequência, o valor do empréstimo era investido na compra de produtos smartphones vindos do exterior.
A apuração aponta que o investigado constituiu uma empresa “noteira”, que emitia notas de saída desses produtos, o que permitia que outra empresa gerasse uma nota de entrada.
— Ele conseguia vender os produtos em marketplaces e, como não recolhia tributos, acabava sendo campeão de vendas — diz o delegado.
A apuração da polícia também apontou que o investigado praticava o crime de agiotagem emprestando os recursos dos golpes a donos de ferros velhos e sonegando impostos. O trabalho desenvolvido nesta segunda é resultado de pedidos cautelares que contaram com a concordância do Ministério Público e foram deferidos pelo 1º Juízo da 1ª Vara do Processo e Julgamento do Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro.
Investigação
Conforme o delegado, a investigação teve início em 2022, no âmbito da Operação Benzina, que cumpriu 86 mandados de busca e nove de prisão temporária em investigação por lavagem de dinheiro em postos de combustíveis.
À época, foi investigada a relação do empresário com um homem membro de uma facção criminosa com sede na Vila Bom Jesus. Segundo o delegado, o empresário teria negociado um carro com um faccionado, que hoje está morto.
A polícia também apurou o caso de uma modelo que teria sido seduzida pelo empresário e convencida a abrir uma empresa com ele, na qual descobriu que seriam injetados valores que eram fruto de desvios fiscais.
Lucio Fernandes Winck não foi preso. Segundo a polícia, a prisão não foi pedida nesse momento porque a investigação trata de crime sem uso de violência.
Suspeito nega acusações
A Zero Hora, o empresário negou todas as acusações e disse que todos os seus bens estão declarados junto à Receita Federal. Segundo ele, a operação teve origem após uma denúncia feita por uma mulher com a qual ele teve um relacionamento no passado e que já tentou prejudicá-lo anteriormente.
Ele afirma que nunca teve envolvimento com empresários do ramo de ferros velhos e nega que utilizou laranjas para administrar suas empresas. Ele também afirma que os smartphones que eram revendidos por ele em plataformas on-line estavam todos regularizados. Ele também nega que tenha uma embarcação avaliada em R$ 5 milhões.
— Tudo que tenho foi adquirido nos últimos cinco anos e está no imposto de renda. A minha casa que eu moro, em Gravataí, foi financiada 90% pela Caixa Econômica Federal. A casa da praia foi financiada 90% pelo Banrisul. O que nós temos quitados é um jipe de R$ 115 mil e uma Porsche e R$ 650 mil, que ainda não foi apreendida — afirma.
Segundo ele, a venda do automóvel ao homem envolvido com uma facção ocorreu, mas ele diz que não sabia do envolvimento do homem com o crime organizado e provou na Justiça sua inocência.
O investigado também nega ter usado o nome da sua empregada doméstica como laranja para a venda de eletrônicos. A advogada Maria Cristina Meneghini, que representa o empresário, informou que ainda não teve acesso ao inquérito e reforça que o mesmo está em segredo de Justiça.