A Polícia Civil cumpre nesta segunda-feira (16) 10 mandados de busca e apreensão contra o empresário Lucio Fernandes Winck, 52 anos, investigado por estelionato, agiotagem e sonegação em Porto Alegre. A operação bloqueou R$ 13,3 milhões em bens do suspeito, entre os quais há sete imóveis e 22 veículos, muitos deles, de alto padrão.
Em resposta a Zero Hora, o investigado negou as acusações e disse que todos os seus bens estão regularizados.
Segundo o delegado Cassiano Cabral, diretor da Divisão de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), o suspeito mantinha um esquema de fraudes há mais de uma década. A investigação aponta que o homem teria enganando inclusive familiares, além de instituições financeiras e o fisco estadual.
A investida, coordenada pelo delegado Filipe Bringhenti, da Delegacia de Repressão à Lavagem de Dinheiro do Deic, foi intitulada Operação Soldado Americano em alusão ao golpe em que criminosos se passam por militares norte-americanos para obter vantagens econômicas, principalmente de mulheres idosas.
A polícia apurou que Winck praticava o crime de agiotagem emprestando os recursos dos golpes a donos de ferros velhos e sonegando impostos. Conforme a polícia, o investigado ostentava veículos de alto padrão para passar uma imagem de empresário bem-sucedido.
A apuração da polícia identificou que, em uma série de golpes aplicados contra um banco, o suspeito teria causado prejuízo de mais de R$ 10 milhões. A investigação também aponta que ele teve aproximadamente 30 empresas registradas em nome de laranjas.
O suspeito tem grande patrimônio, composto por casas, carros de alto padrão e barcos, tudo em nome de laranjas, inclusive da própria filha. Segundo a polícia, o último barco adquirido custou mais de R$ 5 milhões.
Lucio Fernandes Winck não foi preso. Segundo a polícia, a prisão não foi pedida nesse momento porque a investigação trata de crime sem uso de violência.
O esquema
A Polícia Civil identificou que o esquema envolveria um amigo e comparsa do investigado com conhecimento dos processos internos do banco que foi vítima do golpe. Assim, os suspeitos conseguiam elevar rapidamente o credscore (um tipo de pontuação) necessário para a aprovação de empréstimos de valores altos.
Desta forma, conforme a polícia, os investigados contraíam empréstimos em nome de laranjas, reinvestiam os recursos na compra de eletrônicos sem procedência e vendiam por valores abaixo do preço de mercado, com os quais não se podia concorrer.
Para viabilizar este esquema, a polícia afirma que foi constituída uma empresa "noteira", com o objetivo único de fornecer uma nota de saída dos produtos. Ainda conforma a apuração, uma segunda empresa comprava os eletrônicos da "noteira" e os comercializava em marketplaces de redes renomadas.
Uma testemunha relatou à polícia que o suspeito chegou a liderar as vendas de smartphones de alto padrão em uma das maiores redes varejistas do país. Segundo as autoridades, a empresa supostamente líder em vendas neste marketplace, com faturamento multimilionário, foi cadastrada em nome da empregada doméstica do suspeito.
Investigado nega acusações
A Zero Hora, o empresário negou todas as acusações e disse que todos os seus bens estão declarados junto à Receita Federal. Segundo ele, a operação teve origem após uma denúncia feita por uma mulher com a qual ele teve um relacionamento no passado e que já tentou prejudicá-lo anteriormente.
Ele afirma que nunca teve envolvimento com empresários do ramo de ferros velhos e nega que utilizou laranjas para administrar suas empresas. Ele também afirma que os smartphones que eram revendidos por ele em plataformas on-line estavam todos regularizados. Ele também nega que tenha uma embarcação avaliada em R$ 5 milhões.
— Tudo que tenho foi adquirido nos últimos cinco anos e está no imposto de renda. A minha casa, onde eu moro, em Gravataí, foi financiada 90% pela Caixa Econômica Federal. A casa da praia foi financiada 90% pelo Banrisul. O que nós temos quitados é um jipe de R$ 115 mil e uma Porsche de R$ 650 mil, que ainda não foi apreendida — afirma.
O investigado também nega ter usado o nome da sua empregada doméstica como laranja para a venda de eletrônicos. A advogada Maria Cristina Meneghini, que representa o empresário, informou que ainda não teve acesso ao inquérito e reforça que o mesmo está em segredo de Justiça.