A facção que foi alvo de mais de cem mandados judiciais em 13 cidades gaúchas nesta terça-feira (11) usava, para lavar dinheiro, postos de combustíveis em Porto Alegre, Eldorado do Sul, Sapucaia do Sul, Canoas e Alvorada, na Região Metropolitana, Campo Bom, no Vale do Sinos, e em Frederico Westphalen, no Norte do Estado. A Operação Benzina registra, até as 9h, 12 prisões, além de restrição para transferência de imóveis e veículos e bloqueios de contas bancárias.
A Delegacia de Repressão à Lavagem de Dinheiro do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), durante dois anos de monitoramento, confirmou o uso para o crime de dois estabelecimentos comerciais na zona norte da Capital. Os dois postos, que têm a mesma bandeira e que teriam sido adquiridos pelos investigados com o fim de lavar dinheiro, sempre comercializaram combustíveis a preços bem abaixo da média do mercado.
O fato foi comprovado durante a apuração do delegado Marcus Viafore. Segundo ele, isso ocorreu principalmente no período em que a gasolina e o diesel estavam com valores mais elevados.
De acordo com o delegado, por receberem recursos de origem criminosa, os postos podiam vender o combustível mais barato, praticando concorrência desleal com outros empresários do setor. Há 10 dias, a polícia fez um levantamento e percebeu que os estabelecimentos alvo da investigação ainda vendiam o litro da gasolina por R$ 0,62 a menos que a média do mercado em Porto Alegre. Embora tenham a atuação investigada, os postos continuam funcionando.
O grupo criminoso movimentou, entre 2017 e 2020, ao menos R$ 18 milhões, mostrou a investigação. Segundo Viafore, a análise de documentos e de contas bancárias continua e o valor apurado deve ser ainda maior.
O delegado explica que, nos postos de combustíveis, os investigados praticavam uma modalidade de lavagem de dinheiro chamada de “mescla”, investindo nos estabelecimentos uma mistura de recursos lícitos — como os advindos da venda de combustíveis — com recursos ilícitos — como o repasse mensal do tráfico de armas, drogas, roubos, extorsão e receptação. Os repasses eram feitos via Pix ou em dinheiro vivo.
— Aquele primeiro valor que chega à facção, para compra de arma e droga, esse eles não têm preocupação, esse é dinheiro sujo mesmo. Mas na fase que chegamos, na investigação, os criminosos querem usufruir licitamente do dinheiro e cada vez mais estão buscando táticas mais sofisticadas. Portanto, a nossa finalidade é descapitalizar a organização, mas também apreender o bem adquirido por ela, este usufruto que ela tenta ter de forma lícita com dinheiro sujo— relata o diretor do Deic, delegado Sander Cajal.
Procurado pela reportagem, o Sindicato Intermunicipal do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes do Rio Grande do Sul (Sulpetro) informou que não fiscaliza os estabelecimentos, nem faz monitoramento de preços. O presidente da entidade, João Carlos Dal'Aqua, diz que não tem informação sobre quem seriam os proprietários dos postos investigados e que apoia as autoridades na investigação.
Operação Benzina
A operação leva esse nome porque benzina é gasolina em italiano, explica o delegado Viafore. Quase 480 agentes cumpriram nesta terça-feira 86 mandados de busca, nove de prisão e 41 de bloqueio de contas bancárias. Foram impostas restrições de transferência a 29 veículos de luxo apreendidos, incluindo exemplares das marcas Porsche e Ferrari, a uma lancha avaliada em R$ 2 milhões, e a 14 imóveis, sendo um deles um duplex de luxo na zona norte de Porto Alegre avaliado em R$ 1,6 milhão. Os suspeitos também lavavam dinheiro com lojas de conveniência e com a venda de celulares, segundo a polícia.