Seis anos e meio depois, um empresário irá a julgamento nesta terça-feira (17) pelo assassinato da companheira. Débora Forcolén, 18 anos, foi morta dentro de casa, com um disparo de arma de fogo no rosto, em 31 de maio de 2018, na zona norte de Porto Alegre. Marcelo de Oliveira Bueno, 43 anos, é réu por feminicídio – ele alega, no entanto, que o tiro aconteceu de forma acidental.
De um lado, a acusação tentará provar que Bueno assassinou Débora num contexto de violência doméstica. Familiares da jovem relataram após o crime que ela vivia uma relação conturbada e já havia apresentado sinais de agressões físicas. Narraram que o empresário era agressivo, ciumento e manipulador.
Às vésperas de um concurso de beleza, em Canoas, em fevereiro de 2018, Débora teria se envolvido em uma briga com o companheiro, por ciúmes. A jovem teria usado maquiagem e vestido um collant durante o desfile para encobrir os hematomas.
Uma semana antes de ser morta, Débora esteve na casa da mãe e, segundo a família, estava com um olho roxo. Conforme os familiares, ela não teria procurado a polícia para relatar as ameaças e agressões por medo. A jovem era mãe de um menino, que tinha um ano e nove meses na época em que ela foi assassinada. A família afirma que ela pretendia romper o relacionamento e voltar a viver na casa da ex-sogra para morar com o garoto.
Para a promotora Lúcia Helena Callegari, uma das responsáveis pela acusação no processo, o caso evidencia, mais uma vez, a necessidade do rompimento do ciclo de violência doméstica.
— Ela era uma menina linda, com um futuro brilhante, que foi arruinado, e esperamos trazer justiça para a família e para a sociedade, mas, infelizmente, a vida dela não volta mais — afirma.
O promotor Eugênio Paes Amorim, que também vai atuar no júri, classifica o caso como de "extrema gravidade".
— O processo já demora tempo demais, mas o Ministério Público do Rio Grande do Sul está preparado para apresentar as provas aos jurados e requerer uma condenação, que é a justiça a ser feita no caso — complementa.
Réu alega disparo acidental
Do outro lado, Bueno admite ter sido o responsável por alvejar a jovem, mas alega que o disparo aconteceu de forma acidental. A defesa sustenta que o empresário havia pego a arma emprestada por ter sofrido, alguns dias antes, um furto numa área que mantinha na Região das Ilhas.
Na época, o empresário relatou à polícia que estava limpando a arma e, por isso, retirou o carregador da pistola calibre 380 próximo da vítima. Depois disso, teria pressionado a arma na direção do rosto de Débora, sem saber que havia uma bala na câmara. Com isso, o tiro atingiu a mulher e a matou.
Bueno chegou a ser preso logo após o crime, mas foi colocado em liberdade na manhã seguinte. Em julho de 2018, ele voltou a ser preso, enquanto estava internado em uma clínica de reabilitação no município de Palmitos, no oeste de Santa Catarina. Em outubro de 2019, foi solto novamente pela Justiça, e assim permanece até então.
Além do companheiro da vítima, também foi denunciado outro homem, na época apontado como responsável por emprestar a arma usada no crime. Mais tarde, esse segundo réu — que negava ter emprestado a arma — conseguiu reverter no Tribunal de Justiça a decisão de enviá-lo a júri.
O que diz a defesa
Zero Hora entrou em contato com o advogado Rodrigo Grecellé Vares, mas não obteve retorno. Em manifestação anterior, a defesa havia afirmado estar pronta para o júri. Confira:
"A defesa está preparada para o júri e confiante no acolhimento da tese pessoal do réu."
O júri
- A sessão está prevista para se iniciar 9h e será presidida pelo juiz Marcelo Lesche Tonet. Inicialmente, serão sorteados os nomes dos sete jurados que vão integrar o Conselho de Sentença.
- Na sequência, serão ouvidas as testemunhas: são seis. Uma das testemunhas que será ouvida é a delegada Roberta Bertoldo, que investigou o caso na época. A defesa não indicou nenhuma testemunha para ser ouvida.
- Após, será interrogado o réu, que pode optar por permanecer em silêncio ou apresentar a sua versão de como se deu a morte de Débora.
- Encerrada a etapa dos depoimentos, acusação e defesa dão início aos debates. Cada parte terá uma hora e meia para apresentar os argumentos.
- Logo depois, caso o Ministério Público decida ir para a réplica, terá mais uma hora disponível. Da mesma forma, a defesa terá uma hora para apresentar os últimos argumentos.
- Após, os jurados, numa sala secreta, votam os quesitos sobre o caso. São eles que definem se o réu é culpado ou não pelo crime.
- Por fim, cabe ao juiz produzir a sentença. Em caso de condenação, é ele quem faz a dosimetria (definição e cálculo) da pena a ser aplicada.
A vítima
Débora Cassiane Martins Duarte cresceu em uma casa no bairro Harmonia, em Canoas, na Região Metropolitana, no início dos anos 2000. Enquanto a mãe trabalhava, a menina era cuidada pelas tias e pela avó. Com o tempo, passou a chamar uma tia de "irmã" e a outra de "mãe". Adotou também o sobrenome delas. Tornou-se, por opção e afeto, Débora Forcolén.
Quando engravidou, aos 16 anos, a jovem deixou a casa da avó para viver com o pai do filho, em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. Em agosto de 2016, tornou-se mãe de um menino. No mês seguinte, completou 17 anos.
Débora conheceu Bueno por um aplicativo de relacionamentos. Poucas semanas depois, Débora se mudou para a casa do empresário, no bairro Farrapos, na zona norte de Porto Alegre. Algum tempo após, passou a trabalhar como balconista na farmácia da qual ele era sócio.
O filho dela seguiu morando com a avó e o pai, em Novo Hamburgo. A jovem costumava buscá-lo em fins de semana e feriados. Débora sonhava ainda em conseguir um dia alcançar a carreira de modelo e de atriz, participando de concursos de beleza. Em fevereiro de 2018, concorreu ao Miss Canoas.