Camilla Lopes Fruck completaria 26 anos nesta segunda-feira, 16 de dezembro. No entanto, a data marca um dia trágico: há um mês a jovem morreu vítima de bala perdida na zona sul de Porto Alegre. A estudante de enfermagem estava na carona de um veículo, estacionado em frente a uma loja de bebidas, no bairro Restinga, quando se viu em meio a um tiroteio entre dois grupos criminosos. A Polícia Civil prendeu o suspeito disparar a bala que transfixou a janela e atingiu a vítima na cabeça, e está perto de concluir a investigação.
O corpo de Camilla foi sepultado no cemitério de Belém Novo, bairro onde ela vivia. Na segunda-feira, dia 18 de novembro, a jovem começaria num novo emprego, para o qual havia sido aprovada. A estudante sonhava em adquirir um veículo próprio e costumava ajudar a família. Todos os planos foram interrompidos na madrugada de 16 de novembro.
Camilla havia passado o dia passeando de lancha com amigos na praia do Jacuí. Planejava dormir na casa deles, na zona norte da Capital, mas decidiu sair com conhecidos no bairro Restinga. Imagens de câmeras de segurança obtidas pela polícia, que ajudaram na elucidação da morte, registraram o crime. O atirador estava a poucos metros de onde o veículo com a jovem e quatro amigos estacionou na Estrada João Antônio da Silveira.
O carro parou em frente ao estabelecimento e dois amigos, que ocupavam os bancos da frente, desceram. Logo depois, se iniciou a troca de tiros — outros três a quatro atiradores disparavam com pistolas do outro lado da Esplanada da Restinga. Um dos tiros que atingiu o Golf acertou Camilla na cabeça. Outras duas amigas estavam com ela no veículo, mas não foram atingidas. Os amigos da jovem retornaram para o carro, perceberam que ela fora baleada, e partiram em direção ao Hospital da Restinga.
Suspeito preso
Suspeito de ser o autor do disparo que matou a jovem, Fabiano de Souza, 19 anos, atuaria como segurança de um ponto de tráfico de uma facção criminosa e teria entrado em confronto com um grupo rival. Ele foi identificado pela investigação da 4ª Delegacia de Homicídios da Capital e preso em Butiá, na Região Carbonífera. Segundo a Polícia Civil, o homem teve prisão preventiva decretada e continua preso. Interrogado sobre a morte de Camilla, ele optou por permanecer em silêncio. A reportagem tenta contato com a defesa do suspeito. O espaço segue aberto para manifestação.
Após a prisão do suspeito de ser o atirador, a polícia seguiu investigando o caso para identificar outras pessoas que possam ter envolvimento no crime. Quando alvejou a jovem, o homem estaria trocando tiros com um grupo de uma facção rival.
Investigação em fase final
Em paralelo, a investigação continua para apurar qual o envolvimento das lideranças dos grupos criminosos nesse tiroteio. Segundo o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o trabalho está em estágio avançado. A expectativa é de que a conclusão possa ocorrer nos próximos dias.
Como suspeito foi preso
No fim da tarde de 16 de novembro, enquanto patrulhavam o bairro Restinga, na zona sul de Porto Alegre, policiais militares abordaram uma mulher em um Peugeot. No veículo, além de drogas, foi encontrado um revólver 357 prateado. Mais tarde, essa mesma arma seria identificada pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP) como a usada na morte de Camilla.
As investigações conseguiram chegar ao nome do suspeito de efetuar os disparos, que atuaria como segurança para uma facção criminosa. O homem possui antecedentes por porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e lesão corporal. Os policiais seguiram fazendo buscas a ele, que então estava com prisão temporária decretada. As equipes conseguiram descobrir que o suspeito havia deixado Porto Alegre e se refugiado na casa de parentes. Ele foi encontrado na periferia de Butiá.
Preso e solto dias antes do crime
Fabiano de Souza, 19 anos, havia sido preso quatro dias antes do crime, com um arsenal de munição. No entanto, não chegou a ser mantido preso — foi solto por decisão judicial, durante audiência de custódia. Segundo a Brigada Militar, ele foi flagrado no dia 12 de novembro transportado numa mochila 125 munições de calibre .40, três de calibre 9 milímetros — de uso restrito — e uma de calibre 45.
Após a prisão em flagrante, Souza foi encaminhado à 2ª Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) e depois ao Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional (Nugesp), onde passou por audiência de custódia ainda no dia 12 de novembro, quando foi decidido que ele seria solto.
Foram estabelecidas medidas, como comparecimento em juízo sempre que intimado, e manter-se recolhido em casa das 21h às 5h. Às 9h53min do dia 13 de novembro, ele recebeu a liberdade. A morte de Camilla aconteceu menos de três dias depois, na madrugada do dia 16.
Segundo o Judiciário, a decisão confirmou a regularidade da prisão em flagrante de Fabiano de Souza, mas “para que essa prisão fosse convertida em preventiva, seria necessário, entre outros requisitos, um pedido formal da autoridade policial ou do Ministério Público, o que não ocorreu no caso”.
Já o MP informou que se manifestou pela concessão da liberdade provisória de Souza “tendo em vista que, no crime de porte de munição, não ocorreu emprego de grave ameaça ou violência”. Segundo o MP, “o homem não ostentava, na ocasião, antecedentes criminais e nem infracionais”, e “não houve representação por parte da polícia pela decretação da prisão preventiva”.