No fim da tarde do último sábado (16), enquanto patrulhavam o bairro Restinga, na zona sul de Porto Alegre, policiais militares abordaram uma mulher em um Peugeot. No veículo, além de drogas, foi encontrado um revólver 357 prateado. Mais tarde, essa mesma arma seria identificada pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP) como aquela usada na morte de uma jovem vítima de bala perdida.
Camilla Lopes Fruck, 25 anos, foi morta com um disparo de arma de fogo na cabeça, na Esplanada da Restinga, durante tiroteio entre dois grupos criminosos. A investigação da 4ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), resultou na prisão de um suspeito de ser o autor do disparo que vitimou a jovem.
O crime aconteceu por volta das 3h30min do último sábado. A estudante de enfermagem estava dentro de um veículo, um Golf, estacionado em frente a uma loja de bebidas, quando os disparos começaram. De um lado da Estrada João Antônio da Silveira, estava um segurança do tráfico, que, segundo a polícia, guarnecia um ponto de venda de drogas. Foi este homem que, conforme a investigação, efetuou o disparo que matou Camilla.
VÍDEO MOSTRA MOMENTO DA PRISÃO
O atirador estava a poucos metros de onde o veículo com a jovem e outros quatro amigos estacionou. O carro parou em frente ao estabelecimento e dois amigos de Camilla, que ocupavam os bancos da frente, desceram. Logo depois, se iniciou a troca de tiros — outros três a quatro atiradores disparavam com pistolas do outro lado da Esplanada da Restinga. Um dos tiros que atingiu o Golf transfixou a janela de vidro e acertou Camilla na cabeça. Outras duas amigas estavam com ela no veículo, mas não foram atingidas.
— Ainda no local, o exame da perícia constatou que a perfuração que vitimou a jovem entra no sentido da direita para a esquerda. Pelo ponto onde estava posicionado o carro, não teria como ter sido outra pessoa, que não ele, que tenha efetuado o disparo que atingiu o veículo daquele lado — explica o delegado André Luiz Freitas, da 4ª DHPP.
Dinâmica do tiroteio
Imagens de câmeras de segurança obtidas pela polícia ajudaram na elucidação do crime. No vídeo, é possível ver o momento que o veículo onde estava a vítima é estacionado, e quando iniciam os disparos. Outras pessoas se refugiam dos tiros.
— O carro fica no meio do tiroteio e a Camilla é alvo do disparo —explica o comandante do 21º Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Hermes Völker.
Logo depois, os amigos da jovem retornam para dentro do veículo, percebem que ela foi baleada, e partem em direção ao Hospital da Restinga. Camilla chegou a ser socorrida, mas não resistiu.
A partir dessas imagens e de relatos de testemunhas, a polícia passou a tentar identificar quem era o homem que havia efetuado os disparos.
Dois grupos criminosos foram identificados – um ao qual pertence esse segurança do tráfico, uma facção de formação mais recente com atuação nas zonas norte e sul da Capital. O outro grupo é vinculado a uma facção com berço no Vale do Sinos, e que possui ramificações por praticamente todo o Estado.
Naquele mesmo dia, Brigada Militar e Polícia Civil deram início às ações na Restinga. Uma delas foi o reforço do policiamento, numa estratégia chamada de “saturação de área” — com intuito de retomar a sensação de segurança e de pressionar os grupos criminosos que ali atuam.
— A gente se coloca no lugar da família da Camilla. Quando soubemos que era um fato de bala perdida, que é um caso incomum, começamos um movimento intenso para resolver o mais rápido possível e dar uma resposta à sociedade. É o mínimo que se pode fazer, já que não conseguimos trazer a Camilla de volta. É o que nos compete — afirma o comandante Volker.
No fim da tarde de sábado, policiais do 21º BPM abordaram a mulher no Peugeot. Foi quando encontraram o revólver usado na morte da jovem. A mulher chegou a ser presa, mas foi liberada após pagamento de fiança — segundo a polícia, ela não teve participação no tiroteio. Essa arma foi encaminhada pela polícia para ser analisada pela perícia. Para isso, foi coletado um projétil que estava no veículo onde Camilla foi atingida. O confronto confirmou que o disparo que matou a jovem havia partido daquele revólver.
— Trata-se de uma perícia técnica, que comprovou que essa arma foi usada por esse segurança do tráfico e atingiu essa vítima inocente na cabeça — diz o diretor do DHPP, delegado Mario Souza.
A prisão
As investigações conseguiram chegar ao nome do suspeito de ser o segurança do tráfico para a facção criminosa e ter efetuado os disparos. O homem de 19 anos possui antecedentes por porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e lesão corporal — ele não teve o nome divulgado pela polícia. Os policiais seguiram fazendo buscas ao suspeito, que teve prisão temporária decretada.
As equipes conseguiram descobrir que ele havia deixado Porto Alegre e se refugiado na casa de parentes. Na noite de terça-feira (19), ele foi encontrado pela Polícia Civil e Brigada Militar na periferia do município de Butiá, na Região Carbonífera. O preso ainda deve ser ouvido pela Polícia Civil.
Após a prisão dele, a polícia segue tentando identificar quem são os outros envolvidos no tiroteio – os membros da facção rival. Em paralelo, a investigação continua para apurar qual o envolvimento das lideranças dos grupos criminosos nesse tiroteio.
— Foi uma situação muito grave. E não podemos permitir que num local, onde as pessoas estavam confraternizando, duas facções resolvam trocar tiros. Não só os executores serão responsabilizados. Vamos seguir no protocolo e vamos responsabilizar lideranças e gerentes das duas facções que se envolveram nesse tiroteio, numa situação muito triste que resultou na morte daquela jovem — afirma o diretor do DHPP.
Colabore
Informações sobre casos de homicídios podem ser repassadas à Polícia Civil pelo telefone 0800 642 0121.