A Polícia Civil deflagrou, na manhã desta terça-feira (19), uma ofensiva contra uma facção com atuação na zona sul de Porto Alegre. O grupo, segundo a polícia, é investigado por suspeita de envolvimento em homicídios recentes, ocorridos na Capital. A facção também é suspeita de lavar dinheiro do tráfico de drogas. A operação desta manhã, no entanto, dá-se no âmbito que envolve crimes patrimoniais.
A apuração que resultou na Operação Riciclaggio é da Delegacia de Polícia de Repressão ao Crime de Lavagem de Dinheiro do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). São 125 ordens judiciais que são cumpridas nas cidades de Porto Alegre, Cachoeirinha, Canoas, Alvorada e Guaíba. A ação contou com apoio da Brigada Militar.
Até as 9h, quatro pessoas haviam sido presas. Os policiais apreenderam veículos, R$ 70 mil em dinheiro, munições, uma carabina, dois fuzis e duas pistolas. Uma das prisões ocorreu na Lomba do Pinheiro, na zona leste de Porto Alegre. No local, a polícia encontrou uma central de monitoramento com câmeras e diversos veículos de alto padrão.
Entre as armas apreendidas está um fuzil de calibre 762, de alto poder de fogo. Esse tipo de armamento de guerra é capaz de perfurar blindados, por exemplo.
— Não é um tipo de armamento comum de ser encontrado em operações de lavagem de dinheiro. Essa arma representa muito do vínculo do crime organizado. Com quem realiza os homicídios — diz o diretor do DHPP.
Morte na Restinga
Entre as mortes investigadas pelo DHPP, está o assassinato de Camilla Lopes Fruck, 25 anos. A jovem foi vítima de uma bala perdida, na madrugada do último sábado (16), no bairro Restinga, na Zona Sul. A estudante de enfermagem estava dentro de um veículo, por volta das 3h30min, em frente a uma loja de bebidas, quando teve início um tiroteio entre dois grupos criminosos. Camilla foi alvejada na cabeça e não resistiu.
Movimentações financeiras
A polícia investiga movimentações financeiras suspeitas, ocorridas entre dezembro de 2021 até 2024, no montante aproximado de R$ 9,2 milhões. As medidas judiciais executadas nesta terça-feira visam o congelamento de R$ 1,1 milhão.
São cumpridos nesta manhã 14 mandados de busca e apreensão, seis apreensões de veículos, o sequestro de um imóvel, além de bloqueios de contas bancárias, indisponibilidades de bens imóveis, e afastamentos de sigilo e bancário fiscal de 15 investigados, entre pessoas físicas e jurídicas.
Segundo o delegado Marcus Viafore, responsável pela investigação, a apuração apontou que dois irmãos envolvidos com o tráfico de drogas, e um deles com homicídio, estariam adquirindo diversos automóveis, além de um imóvel, em nomes de laranjas — pessoas normalmente sem antecedentes criminais que cedem, de forma voluntária ou involuntária, o nome, documentos ou conta bancária, para que transações financeiras sejam realizadas.
— Não há renda aparentemente lícita por parte dos investigados, que justificasse o aumento patrimonial. Um dos suspeitos, apontado como líder do grupo, estava preso pelo período de nova anos, tendo obtido a liberdade em 2020 — afirma Viafore.
Medidas contra homicídios
Operações de combate à lavagem de dinheiro estão entre as medidas realizadas pela Polícia Civil como forma de enfrentamento aos homicídios na Capital. A ação, segundo o diretor do DHPP, delegado Mario Souza, é uma das que está prevista no protocolo implementado em Porto Alegre, com intuito de coibir a prática de assassinatos pelo crime organizado.
— Essa operação de lavagem hoje é fruto de seis meses de investigação. E nós resolvemos adiantar a execução dessa operação justamente para colocar essa medida em prática, contra a organização criminosa que está envolvida nesses homicídios que estão acontecendo na zona sul de Porto Alegre — diz Souza.
Ainda conforme o delegado, a medida contra as finanças da organização faz parte de uma série de outras estratégias como a saturação diária com reforço do policiamento na região, indiciamento de lideranças, executores, mandantes e líderes dos homicídios e também as transferências federais e estaduais, quando necessárias.
— Esperamos com a aplicação de mais essa medida contra esses criminosos, que insistem em cometer homicídios entre facções ou mesmo contra outras pessoas, que eles tenham o maior prejuízo possível, a cada morte que vierem a cometer — afirma o delegado.