Suspeito de ser o autor do disparo que matou uma jovem, vítima de bala perdida, na zona sul de Porto Alegre, um homem que atuaria como segurança do tráfico de uma facção criminosa havia sido preso quatro dias antes do crime, com um arsenal de munição. Fabiano de Souza, 19 anos, no entanto, não chegou a ser mantido preso — foi solto por decisão judicial, durante audiência de custódia.
Na madrugada do último sábado (16), segundo a investigação da 4ª Delegacia de Homicídios, ele trocou tiros com criminosos de um grupo rival, o que resultou na morte de Camilla Lopes Fruck, 25 anos. A jovem, estudante de enfermagem, estava dentro de um veículo, que ficou em meio ao tiroteio, e foi alvejada na cabeça. O crime aconteceu na Esplanada da Restinga.
Segundo a ocorrência registrada pela Brigada Militar, Souza foi flagrado pelos policiais militares às 5h15min do dia 12 de novembro — terça-feira antes da morte de Camila. O homem foi abordado por uma guarnição, no bairro Restinga, o mesmo onde ocorreu a morte da jovem. A equipe patrulhava as proximidades do Acesso D, na 2ª Unidade do bairro, quando ele foi revistado.
Dentro de uma mochila que ele transportava, segundo a ocorrência, os policiais militares encontraram um arsenal de munição. Foram apreendidas 125 munições de calibre .40, três de calibre 9 milímetros — de uso restrito — e uma de calibre 45. Após a prisão em flagrante, Souza foi encaminhado à 2ª Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA).
O preso foi levado ao Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional (Nugesp), onde passou por audiência de custódia ainda no dia 12, quando foi decidido que ele seria solto. Foram estabelecidas medidas como não se envolver em novos delitos, comparecimento em juízo, sempre que intimado, e manter-se recolhido em casa das 21h às 5h. Às 9h53min do dia 13 de novembro, ele recebeu a liberdade. A morte de Camila aconteceu menos de três dias depois, na madrugada do dia 16.
Segundo o Judiciário, a decisão confirmou a regularidade da prisão em flagrante de Fabiano de Souza, mas “para que essa prisão fosse convertida em preventiva, seria necessário, entre outros requisitos, um pedido formal da autoridade policial ou do Ministério Público, o que não ocorreu no caso”.
Zero Hora entrou em contato com o Ministério Público sobre o caso e aguarda retorno.
Fabiano de Souza voltou a ser detido na última terça-feira (19) em Butiá, na Região Metropolitana, pela Polícia Civil e Brigada Militar, após ser identificado como suspeito do disparo que matou Camila. Ele estava escondido na casa de parentes. Segundo a investigação, o homem atuava como segurança do tráfico de uma facção, quando teria se envolvido no confronto que resultou na morte da jovem.
Sobre este último crime, o preso ainda deve ser interrogado pela Polícia Civil. Pelo caso da apreensão das munições, ele foi indiciado pela Polícia Civil na última segunda-feira (18), em inquérito remetido ao Judiciário.
Dinâmica do tiroteio
Imagens de câmeras de segurança obtidas pela polícia ajudaram na elucidação do crime. No vídeo, é possível ver o momento em que o veículo onde estava a vítima é estacionado, e quando se iniciam os disparos. Outras pessoas se refugiam dos tiros.
— O carro fica no meio do tiroteio e a Camilla é alvo do disparo — explicou o comandante do 21º Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Hermes Völker, em entrevista à imprensa na quarta-feira (20).
Logo depois, os amigos da jovem retornam para dentro do veículo, percebem que ela foi baleada e partem em direção ao Hospital da Restinga. Camilla chegou a ser socorrida, mas não resistiu.
A partir dessas imagens e de relatos de testemunhas, a polícia passou a tentar identificar quem era o homem que havia efetuado os disparos.
Dois grupos criminosos foram identificados — um ao qual pertence esse segurança do tráfico, uma facção de formação mais recente com atuação nas zonas norte e sul da Capital. O outro grupo é vinculado a uma facção com berço no Vale do Sinos, e que possui ramificações por praticamente todo o Estado.
Naquele mesmo dia, Brigada Militar e Polícia Civil deram início às ações na Restinga. Uma delas foi o reforço do policiamento, numa estratégia chamada de “saturação de área” — com intuito de retomar a sensação de segurança e de pressionar os grupos criminosos que ali atuam.
— A gente se coloca no lugar da família da Camilla. Quando soubemos que era um fato de bala perdida, que é um caso incomum, começamos um movimento intenso para resolver o mais rápido possível e dar uma resposta à sociedade. É o mínimo que se pode fazer, já que não conseguimos trazer a Camilla de volta. É o que nos compete — disse o comandante Volker.
A prisão
No fim da tarde de sábado, policiais do 21º BPM abordaram uma mulher em um Peugeot. Foi quando encontraram o revólver usado na morte da jovem. A mulher chegou a ser presa, mas foi liberada após pagamento de fiança — segundo a polícia, ela não teve participação no tiroteio.
Essa arma foi encaminhada pela polícia para ser analisada pela perícia. Para isso, foi coletado um projétil que estava no veículo onde Camilla foi atingida. O cruzamento confirmou que o disparo que matou a jovem havia partido daquele revólver.
— Trata-se de uma perícia técnica, que comprovou que essa arma foi usada por esse segurança do tráfico e atingiu essa vítima inocente na cabeça — afirmou o diretor do DHPP, delegado Mario Souza, na coletiva.
As investigações conseguiram chegar ao nome do suspeito. As equipes conseguiram descobrir que ele havia deixado Porto Alegre e se refugiado na casa de parentes. Na noite de terça-feira (19), ele foi encontrado pela Polícia Civil e Brigada Militar na periferia do município de Butiá, na Região Carbonífera.
Após a prisão dele, a polícia segue tentando identificar quem são os outros envolvidos no tiroteio — os membros da facção rival. Em paralelo, a investigação continua para apurar qual o envolvimento das lideranças dos grupos criminosos nesse tiroteio.