A Esplanada da Restinga, na zona sul de Porto Alegre, costuma ser um local de confraternização. Na madrugada deste sábado (16), no entanto, o lugar ficou marcado por um episódio trágico. Uma jovem foi morta, vítima de bala perdida, após criminosos abrirem fogo contra rivais no meio da rua. Camila Lopes Fruck, 25 anos, foi atingida por um tiro na cabeça e não resistiu.
Neste sábado, o clima no local, após o crime, era de silêncio, por receio de represálias, e de incredulidade.
— Há muito tempo não acontecia algo assim. Estava tranquilo. Ontem teve festa e tudo, mas terminou mais cedo — relata uma moradora das proximidades, sobre a comemoração da 50ª Semana da Restinga, que era realizada no Palco Central da Esplanada – o evento segue ocorrendo no bairro.
O episódio que resultou na morte da jovem ocorreu já na madrugada, após às 3h30min. Camila estava dentro de um veículo com amigos na Estrada João Antônio da Silveira. O carro havia estacionado em frente de uma loja de comércio de bebidas, bem perto da Esplanada. Dois amigos desceram do automóvel e foram até o estabelecimento, enquanto a jovem ficou aguardando no carro, com uma amiga. Neste momento, criminosos teriam começado a disparar na mesma rua.
Na loja, que seguia aberta neste sábado, trabalhadores evitam falar sobre o ocorrido. Esquivam-se de dar detalhes sobre o fato.
— Não estava trabalhando na hora, não era meu turno — diz um deles.
Segundo moradores, um dos funcionários teria sido alvejado de raspão por um dos disparos, sem gravidade. No momento dos disparos, algumas pessoas teriam corrido para se abrigar. Foi quando Camila foi alvejada. A jovem chegou a ser levada pelos próprios amigos para o Hospital da Restinga, mas não resistiu.
O alvo dos atiradores, conforme a polícia, eram membros de um grupo rival. Camila não possuía antecedentes criminais e não tinha qualquer relação com o tiroteio.
— A Polícia Civil está realizando diligências a fim de levantar informações sobre a dinâmica do ocorrido e identificar os autores — diz o delegado André Luiz Freitas, da 4ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que investiga o caso.
O conflito estaria relacionado às disputas pelo tráfico de drogas. A Restinga é um bairro onde há presença de diversos grupos criminosos, numa espécie de colcha de retalhos. Estojos de pistola calibre 9 milímetros – arma de uso restrito, mas que costuma ser usada em confrontos de criminosos – foram encontrados no local.
— Aconteceu tudo muito rápido. Mas ninguém quer se envolver agora. As pessoas têm medo de dizer o que viram. Todo mundo fica com medo. Ninguém quer se meter com bandido — diz uma comerciante.
A vítima
Nas redes sociais, Camila se identificava como estudante de técnico de enfermagem. A jovem vivia na zona sul, mas em outro bairro, no Belém Novo. A mãe dela reside em Santa Catarina, e retornou ao Estado após a perda da filha.
— Coitados dos pais. Morreu uma inocente, é muito triste — lamenta outra moradora, que diz evitar sair de casa durante a noite.
Comandante do 21º Batalhão de Polícia Militar, o tenente-coronel Hermes Völker afirma que desde a madrugada os policiais estão trabalhando, de forma conjunta com a Polícia Civil, em busca de pistas dos criminosos envolvidos na morte da jovem. Até a tarde deste sábado, ainda não havia presos pela morte de Camila.
O caso, segundo o oficial, diverge da maioria dos registros de assassinatos ocorridos na região.
— Geralmente, os casos de homicídios se dão entre integrantes de grupos criminosos. Mas não foi esse o caso. A vítima não tinha antecedentes. Estava ali dentro do carro, com amigos. É um caso muito grave. Estamos trabalhando para dar uma resposta à sociedade o mais breve possível e prender os autores o quanto antes — diz o comandante.
Colabore
Quem tiver informações que auxiliem na elucidação do caso pode entrar em contato com a Polícia Civil, por meio do telefone 0800-642-0121, do Departamento de Homicídios.