Na última semana um vídeo circulou nas redes sociais mostrando um homem sendo violentamente abordado por dois assaltantes na escadaria da Borges, localizada no Viaduto Otávio Rocha. Com a repercussão das imagens nas redes, a discussão referente à segurança no local foi levantada. Zero Hora falou com autoridades, moradores e comerciantes do entorno da escadaria para descobrir a realidade no local.
Andriele Paiva trabalha há mais de um ano no bar do Justo, localizado no coração do viaduto. Há um mês, ela se dirigia ao bar quando foi abordada por dois homens, um deles portava uma faca. Ela tentou resistir, mas depois de ouvir ameaças entregou seu celular.
O local onde ela foi assaltada é o mesmo onde o vídeo foi gravado: em frente a um terreno baldio que fica ao lado de um condomínio residencial, chamado Duquesa. O síndico adjunto do condomínio, Gilberto Passos, relata que os casos de assaltos a pedestres cresceram nos últimos meses:
— Os relatos de roubos e agressões têm sido dois por semana, algo inimaginável em outros tempos.
Segundo o síndico, a falta de policiamento ostensivo também contribui para o ambiente de insegurança.
Números destoam
Apesar da repercussão, o 9º Batalhão de Polícia Militar, responsável pela área, divulgou números sobre os crimes no local, que apontam para uma queda. Entre setembro e outubro deste ano, segundo os dados, houve uma redução de 56% nos casos de roubo a pedestre no local, em comparação com o mesmo período de 2023. Em outubro do ano passado, foram registrados oito casos, neste ano o número caiu para quatro.
O 9º BPM informou também que a tentativa de roubo a pedestre registrada no vídeo ocorreu na manhã do dia 8, por volta das 7h da manhã, e que na madrugada de sábado (9) foram presos dois homens, reconhecidos pela vítima como os assaltantes.
Entretanto, os números oficiais não refletem a sensação de insegurança compartilhada por moradores e empresários locais. Ruy Barbosa de Souza, sócio da editora Rigel, conta que o estabelecimento foi furtado duas vezes em dois meses e que também percebeu um aumento nos relatos de assalto a pedestres.
— Sempre foi perigoso, mas ultimamente a segurança no viaduto é um escárnio. Volta e meia pessoas entram correndo aqui na loja fugindo dos assaltantes — afirmou Ruy, que devido à insegurança colocou correntes na porta de entrada, que permanecem mesmo durante o dia.
Obra apontada como agravante
O Teatro de Arena, que fica no viaduto da Borges desde 1967, conta com segurança privada 24 horas por dia. Segundo a diretora Ana Cristina Froner, as vigilantes ficam sempre dentro do prédio, exatamente por ser considerado “muito arriscado” ficarem do lado de fora. As funcionárias também citam que os relatos de assaltos a pedestres no local se tornaram mais frequente nos últimos meses, principalmente no início da manhã e final da tarde.
A diretora afirma que a segurança no local é uma preocupação frequente e aponta que a obra da revitalização do viaduto é um dos principais fatores que gerou o aumento na insegurança. A reforma teve sua ordem de início assinada em novembro de 2022 e tem como previsão de conclusão fevereiro de 2025.
A diretora explica que a obra gerou diminuição da circulação de pedestres, dificuldade de locomoção e falta de iluminação, situações que, segundo ela, propiciam os crimes.
— As pessoas têm que caminhar ali bem devagar, ficam olhando para o chão para não cair e ficam distraídas, nem veem que tem pessoas à espreita. Além disso, depois de abordada, a pessoa não tem nem como correr, de tão ruim que está a locomoção ali, ela fica encurralada — diz diretora.
Andriele, funcionária do bar Justo, reafirma que a obra é um agravante da situação:
— Quando eu fui roubada, estava muito escuro. A falta de luz em alguns pontos, por conta da obra, tem dificultado muito a segurança.
Contraponto
O que diz a Smoi:
A Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Smoi) informa que a iluminação das escadarias do Viaduto Otávio Rocha foram reforçadas na última segunda-feira (11). A iluminação precisou ser reestabelecida pois, segundo a secretaria, os cabos haviam sido furtados e estavam funcionando apenas em alguns postes.
O que diz a Brigada:
O 9º BPM afirma que mantém diversas modalidades de policiamento na região, incluindo operações embarcadas, com motocicletas e bicicletas. A Brigada Militar reafirmou seu compromisso com a segurança pública e solicita a colaboração da comunidade, incentivando a denúncia de atividades suspeitas ou ilícitas por meio do telefone 190.
Também reforça a importância do registro de qualquer ocorrência, pois de acordo com eles, isso não só contribui para investigações competentes, como também é essencial para a análise criminal e o planejamento estratégico do emprego de recursos policiais na região.
O que diz a Polícia Civil:
O delegado Paulo César Jardim, titular da 1ª delegacia de Porto Alegre, diz que não tem o levantamento dos casos de assaltos a pedestres no local, mas que “na delegacia não foi percebido um aumento”.
O que diz a Secretaria Municipal de Segurança:
“A Guarda Municipal, desde o marco da enchente de maio, atua no processo de retomada de atendimento de pontos específicos e próprios municipais da capital, onde a Escadaria da Borges, a partir de novembro, entra no escopo de demandas do patrulhamento intenso realizado diurnalmente, quando ocorrem as tentativas de roubo e furto aos munícipes do entorno.”
* Produção: Camila Mendes