Para a família de Débora Forcolén, 18 anos, o fim trágico da jovem, mãe de um menino de um ano e nove meses, poderia ter sido evitado. Ela foi morta na tarde de quinta-feira (31) com um tiro no rosto, dentro da casa onde vivia com o companheiro no bairro Farrapos, na zona norte de Porto Alegre.
Marcelo de Oliveira Bueno, 37 anos, argumenta ter atirado de forma acidental na mulher. O empresário foi solto na manhã desta sexta-feira (1º). Os familiares da vítima relatam um relacionamento conturbado, com histórico de brigas, agressões e ameaças constantes.
— Ele sempre foi uma pessoa agressiva, ciumenta, que não respeitava ela. Agredia verbalmente, fisicamente, mentalmente. Usava muito o psicológico com ela — conta Raquel Forcolén Martins, 21 anos, tia de Débora. As duas jovens se consideravam irmãs porque foram criadas juntas e têm idades aproximadas.
A última vez que Raquel falou com a irmã foi na quarta-feira (30), quando recebeu telefona dela. Ela conta que a jovem estava disposta a deixar a casa do companheiro, por conta das brigas constantes.
— Me ligou na quarta-feira e disse que ia voltar para a casa da ex-sogra, para morar com o filho. Não aguentava mais as ameaças que ele fazia a ela e à família. As agressões, que não eram poucas. Os hematomas que ela tinha no corpo. Até semana passada, estava com o olho muito roxo — afirma.
A jovem diz que em diversos momentos flagrou hematomas no corpo da irmã e chegou a aconselhá-la a abandonar o relacionamento. Em um dos episódios recentes, em fevereiro, às vésperas de um concurso de beleza em Canoas, Débora teria se envolvido em uma briga com o companheiro.
— Um dia antes brigaram porque ele ficou com muito ciúme de ela desfilar para todo mundo. E ela teve de se cobrir de base para desfilar de collant porque eram muitos hematomas.
Denise Forcolén, 26 anos, tia de Débora, que cuidou dela desde que tinha seis meses, confirma o histórico de agressões. Para a familiar, a jovem tinha dificuldade de se desvencilhar da relação, que se iniciou há cerca de um ano e dois meses.
— Ela passou muito trabalho e aí ele apareceu. Mas ela vinha sofrendo muito.
Raquel conta que a irmã não procurou a polícia para denunciar as agressões porque tinha medo que algo mais grave pudesse acontecer.
— Ela tinha medo de ele fazer o que fez. Falava para mim que ele tinha uma arma em casa e que a ameaçava. Que se ela o traísse, ia matá-la e a família também — conta.
O empresário, que nega ter matado a mulher de forma intencional, chegou a ser preso na quinta-feira, mas foi solto nesta sexta-feira. A notícia revoltou familiares.
— A gente quer Justiça, a gente quer ele preso. Voltar ela não vai voltar, a gente sabe. A gente quer zelar por ela, pela vida que teve, pela memória dela. E ela merece. Ela sempre foi boa mãe, boa irmã, boa sobrinha, boa neta, boa filha. O que ele fez não tem perdão — diz Raquel.
Contraponto
O advogado que defendeu o empresário na delegacia, Flávio José Cenatti, sustenta a tese de que não houve premeditação no crime. O advogado afirma que o seu cliente descreveu o relacionamento com a vítima como "muito bom".
— Não houve dolo e nem intenção. O relacionamento era muito bom entre os dois e ocorreu uma fatalidade — diz o advogado.
O advogado também confirmou que seu cliente foi solto no final da manhã desta sexta-feira (1º). Ele não deu detalhes sobre a decisão judicial que levou a soltura de seu cliente.
A investigação
A Polícia Civil concedeu uma entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira para falar sobre o caso. O crime é investigado pela 2ª Delegacia de Homicídios e não pela Delegacia da Mulher, já que não foi registrado como feminicídio, por conta da alegação de tiro acidental.
Segundo a polícia, o empresário tem antecedentes por lesão corporal, ameaça e até violência doméstica contra outra mulher, em 2015. Conforme a delegada Roberta Bertoldo, os policiais irão apurar o perfil agressivo e se a relação realmente era violenta.